quarta-feira, 30 de julho de 2008

Incógnita


Incógnita




Por mim findaria tudo naquela mesma noite, nem mesmo palavras, nem mesmo palavrões, nada mais tinham razão de ser, nem de estar, tinha aquele sorriso meia boca, que na verdade, nada queria dizer.
Pois é, o velho apartamento, ainda por cima o mundo parece que vai se acabar em água, igual àquela noite, bendita noite!
_ Maldita noite!
_ Não diz isso, chama coisas ruins.
_ Faça-me o favor, você diz coisas sem sentido!
_ Gosto de tempestades...
_ Deve ser por que você não tem horário...
_ Mas não gosto quando falta luz...
_ Tenho medo, é que no escuro não posso me vê, me sinto, mas, mas não me vejo, é como se faltasse o resto, a penumbra não me agrada de verdade, mas é bonito olhar o vento desarrumar tudo.
_ Você só pode ser doida mesmo.
_ Sonhei com você esta noite...
_ Lá vem você! Com mais bobagem, sei e como foi?
_ Estranho..
_ Isso já sei, é de lei...
_ Nós estávamos juntos, caminhando com amigos, e de um momento para outro nós estávamos dentro de um banheiro, agente transava ali mesmo, mas de um momento para outro eu te via sangrar...
_ Sei, sei...
_ Teus olhos, me lembro que não os via, e era tanto sangue, que você já não existia, era só eu e o sangue, mas o mais interessante é que eu não tinha medo e até gostava, depois disso mais nada, eu acordava, sem medo e feliz.
_ Sem medo e feliz?
_Sim na mais completa paz...
Acho que precisa voltar á tomar aqueles remédios, como era mesmo o nome deles?
_ Eu não te amo mais.
_ Como era mesmo o nome dele?
_ Pra mim esta nossa falsa história já não me serve...
_ Você não está nada bem mesmo!
_ Não me ouve? Droga! Toda vez que falo você faz isso. Fingi não me ouvir, por mim tanto faz, é o que quero.


.
Maldita noite! Estava preparada pra abandonar tudo, o emprego, a cidade, o estado, o país, ele...
Mas o que fazemos quando estamos viciados em algo muito maior que nós mesmos? Ele veio novamente, depois de tanto tempo, me ligar, não! Não! Estava muito bem obrigada, estava só, mas bem, mentira! Mentira! Quando vou voltar a falar a verdade?
_ Não eu...
_ Termine o que ia dizer, vamos, você tem essa mania feia de cortar as palavras, sabe que detesto isso.
_O sonho, você me quer morto é isso? Não precisa mentir não me ama desde quando?
_Desde já...
_Sempre é hora, seja lá do que for, olha pra mim!


Olhou, vi que sentia pena de si mesmo, e ainda assim eu não tinha pena dele, aprendi que cada um, tem aquilo que merece, sendo assim também pagava meu preço, e não estava arrependida, de nada.



_ Estive grávida!
_ Como é? Esteve grávida, mas como assim, esteve grávida?

_ Nunca permitiria te ter assim, vivo dentro de mim, matei o que de você restava, agora me mate antes que seja tarde de mais..
_ Está mentindo eu sei, quer ir vá, mas não minta! Não mintaaaaa...
_ Acha que minto, pois te digo, era um menino, como eu agüentaria, ter você em dobro? Tinha quatro meses...
_ Louca, louca!
_ Ao contrário, não foi muito trabalho, conheço pessoas, além de tudo meu “amor”, eis aqui um corpo que não mais te pertence...
Ainda me lembro, eu vi pela primeira e última vez ele chorar, mas, não eram lágrimas de tristeza, eu vi naquele homem, lágrimas de alívio, então tomei a decisão certa, não errei nos cálculos, nada, tudo medido e ao mesmo tempo sem medida alguma,





_Um menino?
_ Um menino, ainda assim mesmo sendo quase nada, dava pra vê, teria seu nariz, eu não poderia, era ele ou eu.
_Vá..
_Gosto de chuva...
_Vá...
_Consegue ouvir lá fora meu “amor”?
_ O vento agora bagunça tudo, e aqui dentro uma tempestade dessas, engraçado.
_Bendita noite...




É poderia ter acabado ali, fui pro ponto de ônibus, será?
Essa hora?
_Moça!
_Moça, está bem?
_ Sim estou, muito, muito bem obrigada, só um pouco enjoada...
_Ah! Sim...
_ Parabéns!
_Quanto tempo?
_Quatro meses.


Ao meu vê, não acabou ali...
Bendita noite!



Em especial á um grande amigo, Jean Loni.





Amélia Porto, 25 de abril de 2008.