sexta-feira, 9 de abril de 2010

Há temporal


Foi um momento, nada muito grande, nem decisivo, um momento a abelha passou zunindo entre as folhas, mas o que pode haver de mais em uma abelha entre as folhas? Nada, como eu disse, foi rápido, não capturei o momento, não se prende isso, nem se guarda como espasmos de gozo, você sabe que quase morreu, mas quando passa você não sente mais.
De certa maneira ordinária eu penteava os cabelos e amarelava a cara diante do espelho. Existe tempo sem meses e relógios sem ti-tacs?
Era um calor assim, quase sufocante, o rosto pingava suor e os olhos ardiam, como quem põe brasa sobre eles, um cheiro de lavanda misturado a desinfetante de banheiro, uma plantinha vagabunda no jarro de R$ 1,99. Presa por anos dentro daquele corpo me senti por assim dizer, se eu puder esclarecer claro! Sem sentido algum, se no fundo e mais adiante e tivesse ouvido ou enxergado a abelha, o espelho e a folha, seria interessante lembrar, prender, mas andava murcha e amarelada, eu era foto desfocada, riso rasgado o desalinho total da minha mão não dizia nada qual meu destino. Aqui jazz atemporal mente para todo o sempre, amém! No desconforto de ser eu, dei a outra o direito de se render. Se me visse na rua, diria que sou um fantasma, se me conhecesse de mais perto, que tenho sede de vida, e profundamente diria que estou morta.