terça-feira, 29 de setembro de 2009

Todo mundo sente!


A minha dor não é uma dor de muita gente não, é mais minha que de qualquer outro, é coisa cortante que quando chove anuncia mais uma lágrima serena, nem marca muito porque tem vergonha de só ser, não busca muitos questionamentos, nem se irrita com as cores misturadas no fim de tarde por onde vejo pessoas que passam um menino que tropeça e uma moça que canta sem ligar pra afinação, fico de cá sem me dar conta de quanto tempo se passou, nem quantas saudades ainda tenho, de que ou de quem?
Evito procurar respostas, assim eu não dou voltas ao meu redor, ficaria tonta a acabaria por cavar minha sepultura, é melhor falar de dor?
Dor é assim, você sabe que machuca, algumas vezes toma um remédio que diminui a aflição, mas se volta a febre é sinal que não se combateu o verdadeiro mal, algumas dores são causadas por querer, parece absurdo eu bem sei, mas elas estão por ai espalhadas, vivas e mostrando que por vezes são desejadas, outras provocadas por alheios sequer sabem como foram parar em tal pessoa, acho que a moça parou de cantar...
Dor de dente, credo! É uma das piores, dor fina que aparece em alguns momentos, vai estourar a mente, é assim a sua dor?
A minha é uma dor atemporal, tranqüila, fica pouco tempo, mas dói em parcelas, se ao menos matasse de vez, mas não, nem morre e nem vive, às vezes vem com uma música, ou uma palavra que quem a disse não faz idéia do mal que causou, é dor de noite fria e pingos no telhado, dor de falta ébria, que vai rompendo a madrugada e dá alarme ao amanhecer, compro livros, flores, cristais e velas, deixo tudo pronto pra quando ela chegar, dor de criança com cólica, que não sabendo falar ,chora ,dor de despedida em rodoviária, sem a certeza do retorno, mas que deixa aquele querer mais, que fadiga o juízo e proíbe qualquer falta de esperança, mas a incerteza é o que resta e se apegar á tal visgo é loucura, escorregar nesses velhos devaneios também é.
Não disse! Chuva...
Começa com os pássaros correndo pra se esconder, depois um vento tímido, calado, mas logo o cheiro, que sai dominando a casa toda, fecham-se janelas, acendem-se luzes, procuram-se lampiões, e mesmo assim, ela desce, o mesmo relâmpago, anuncia a mesma dor, mas de forma diferente, ainda assim vem, compro alguma essência que tenha cheiro de quietude, que é pra eu me esconder no fundo do quintal nesses dias, e nesses mesmos dias eu costumo ouvir qualquer coisa parecida com melodia molhada, mares, lagos, rios, lagoas, tudo caindo do céu, a minha dor expande como chuva, as vezes cálida, as vezes neurótica, vai da maneira como todos se encontram, leva casas, lava ruas, decifra o rancor, perpetua toda e qualquer falta de si mesmo.
Destrambelha o córrego, e vez por outra arranca flores de onde elas nunca deveriam nascer na beira do poço velho, os bichos também são medo, cobras, lagartos, uma renascença que pode matar, trazendo outra verdade, dor é como quando você quer comer algo que não sabe o que é.O desejo aumenta, mas não é fome, é vontade de não sei o que, é como eu disse saudade de quem ou do que, é preferível não saber, ainda continuo sendo uma vírgula entre uma comparação e outra.