sábado, 31 de outubro de 2009

Diafragma!


Morro de medo todo momento, morro...
Eu quis dizer isso, mas você não ouviria você iria rir e dizer o de sempre “tudo vai dar certo”. Não deu, nada deu certo o certo é que houve um desnível entre nós a verdade mesmo é que as mentiras foram todas muito bem contadas, que nessa imensidão que se tornou meu quarto os passos se fizeram imprecisos e largos demais, você me escutou chamar? Não eu sei a resposta, não.
Mudei de perfume a cor do cabelo e as unhas curtas agora são compridas, tive uma dor terrível no peito, quase transferi minha conta pra outro banco, retirei meu sinal e deixei que os velhos discos fossem vendidos, você me ouviu chorar? De certo que não.
Foi tempo de mais em poucos meses, sussurros e gemidos lágrimas ao contrário, desci mais de onze andares a pé naquele dia, bebi com estranhos e fiz amor com mulheres divinas, perdi a hora do trabalho e dei com a cara em um poste. Você me viu partir? Não, evidente que não.
Pedi tantas vezes de formas evidentes e outras pragmáticas, roubei um livro pra ti, daqueles que não faz muito sucesso, mas que se pode tirar frases feitas, comprei o vinho que gosta. Viu-me? Creio que não...
Aprendi outras línguas no intuito de que me impedisse e finalmente largasse seu complexo de vitima pondo enfim a vírgula que faltava em nossa fala e se fazia entender diferente do que se dizia...
Você me leu? Eu sei que não!
Cuspi sim na sua cara, mas seu rosto era pedra fria e não consegui distinguir o que ele transpassava, a dor foi menor agora, dancei por tempo sem fim, sereia de mar aberto, são oceanos desmantelados e cheios de temporais, se eu ventar entre sua razão ainda assim não estará me sentindo...
Estrelas marinhas, corações fantasmagóricos, cavalos marinhos, meia hora de culpa, outras tantas de você em mim, fidelidade? Ouviu?
Nem uma coisa nem outra não quero aborrecê-lo, sei o quanto sou suscetível não devo ser levada á sério, mesmo assim estou centrada de que propositalmente ergui sua alma do nada, te dei algo maior do que seus textos e músicas, te dei aquilo que perdeu no decorrer da sua presunção, então como herança eu me quero de volta, mudei de ti pra morar em mim, quantas jovens ainda se vestem de flores pra sair a rua? Eu me visto...
Tem me visto? Não, definitivamente, não.

Melodia...drama...


03: 27 da madrugada...
Não consigo para de ouvir a música... Ah, we fade to grey
Simplesmente dormi antes que ela e fosse, deveria ser umas nove e alguma coisa, foi um sono imposto por mim, na minha doce ilusão de dormir até de manhã, mas eles voltaram os malditos sonhos sempre voltam, acordei depois da zero hora achando que era outro dia, que era amanhã, que idiotice de minha parte, ainda é hoje, infelizmente ainda é hoje...


Acordei chorando e a dor no peito ainda insistindo em estar ali, não sei ao certo em que ponto do sonho eu chorei e por qual motivo acorde assim. Eu acordei? Ah, we fade to Gray...


Liguei pra ela, só por não tem mais em que ou quem me apegar, já faz horas isso, falei do mal estar eu só queria mesmo ouvir uma voz conhecida, beco sem saída, pode ser. Já li e reli inúmeros textos, meus, dele, dos outros, de gente que nem sabe que eu os tenho ainda, de gente que ainda deve ter alguma coisa minha com ele, e pó que pelas caridades ainda não me devolveram, odeio fins de semana, feriados e tudo mais, a idiota aqui esqueceu de comprar cigarros, como uma fumante que não quer parar esquece de comprar seus companheiros das horas certas e incertas?


Vai saber eu já esqueci tanta coisa, mas segunda-feira está chegando aí, mais um dia de finados, eu nunca mais voltei ao túmulo dela, não teria motivos pra isso, ela não está mais lá, assim como minha prima levada por uma doença chamada câncer, doença eu que nomeio de coerção da alma, sim afinal de contas um caroço no estômago causado por sentimentos contidos e coisas mil não pode simplesmente dizer o que a matou.


Doença essa que penso eu vai me levar um dia quem sabe, no caso DELA, não me refiro a minha prima, sempre fazendo exames, eletros, etc. Mas nunca dava nada, um belo dia, um belo dia, que ironia, enfim, menos de 4 horas e três ataques cardíacos depois se acabou!
É sim, simples assim, de lá pra cá cinco anos se foram, quase cinco, eu morri durante uns dois anos creio eu, foi a primeira morte, mal sabia eu que viriam tantas outras, deixei de ser adolescente tarde de mais, fiquei velha muito mais rápido, no intuito de me deixar esquecida renasci outra, morri novamente renasci , é um círculo vicioso esse não?


Estou enjoada e não falo da minha gastrite, falo desta cidade, das pessoas, dos “amigos”, da vida social que fiz questão de matar, do curso que tanto amava, dos professores tão senhores do saber, estátuas de mármore. Não conheço a maioria das pessoas do prédio, com exceção de uma vizinha solicita que tenho ao lado, outra da frente que “Nossa eu acho tudo o teatro” Quantas vezes essa mulher viu uma peça meu Deus? Balela, tudo balela...


Uns três rapazes de olhar faminto quando passo ainda estudantes também, a cidade está cheia deles, que piada mais sem graça, todos se achando moderadores do mundo, futuros médicos, advogados, professores como eu, muitas meninas, muitos garotos, que merda!
Não faço mais questão desde meio, ou desta vida social, sou mesmo um bicho enjaulado, fazendo minha parte no papel da sociedade, Ok pode rir á partir de agora...


E, no entanto, eu ainda acordo chorando no meio da noite feito uma criança de 4 anos de idade, só a dor no peito me entrega, mais nada, sem mão pra segurar na hora do desespero, sem alguém que ouça o soluçar ou lamba minhas feridas, por isso eu cuido delas, de cada uma, com um querer maior ainda pelas mais antigas, todos os dias eu as limpo, e as cubro, mas o que fazer quando estas não querem cicatrizar? Ah, we fade to Gray...


Requentei a porcaria do café, amargo, eu detesto coisas ou pessoas doces de mais, me irritam e parece soar tão falso, esse povo sente dor? Não quero ser um deles, miss simpatia ou coisa do tipo, agradar Deus o mundo e os fundos, menos á mim. Bom dia, nossa como está bonita! Na verdade querendo dizer... Dane-se o dia você está péssima hoje!


Foda-se! Não estou pedindo pena, acho isso ridículo, não costumo ter, apenas quando considero o ser desprezível, eu sou desprezível? E por favor, não diga que sou dramática, afinal de contas não posso tocar sua mão e transpor o que sinto certo? Meu bem existe dois tipos de morte, uma conhecida por todos e outra, outra que só nós fantasmas conhecemos, mas se ainda sinto a dor no peito, o choro no meio da madrugada, vontade de acordar os vizinhos idiotas, gritar aqui de cima, ir pro meio da pista aos berros dizendo... Vocês é que estão mortos...


Então será mesmo que morri?
04: O3 Como eu gostaria de dormir agora...

Rotina, tic tac...


Achei que estava atrasada, no entanto, quando olhei no relógio o tempo parecia ter parado, fui acendendo todas as luzes o que não era nada bom, voltei e fui apagando todas,menos a do quarto ,comi alguma coisa muito rápido o estômago até estranhou, será que minha pressão caiu?
Banho tomado, aquele chamado banho de gato, decidi em seguida o que vestir, sem muita enrrolação pensei em usar lápis no olho, é realmente uma observação sem maior intenção, mas justamente hoje que eu queria estar com o olhar acentuado e por que não dizer profundo?
Estava com todos os sentidos aguçados e ao mesmo tempo eu estava lenta, lisérgica eu diria as vozes em eco, as cores borradas e o vento? Bom o vento já era de se esperar “Nem sempre pergunto somente o que não sei



So maybe tomorrow... Refrão da música indo e vindo na minha mente. “Talvez outro dia eu tenha tal resposta”. Já em sala de aula, aula essa que eu ouvi tudo, mas não assimilei nada, absolutamente nada, Brasil III, eu lá queria saber de oligarquias e coronelismo! Neste momento, exatamente agora ele entra em cena, ai próximo á porta do canto da parede, na última cadeira, no fundo da sala eu o encontrei, bem ali, na verdade não sei há quanto tempo ele tinha chegado, de pernas pra cima , sem conseguir voltar para baixo e seguir seu caminho...
Como alguma coisa rapidamente, a dor no peito voltou, fazia alguns meses que ela não me visitava, estaria incubada? Sei lá! O almoço estava tão salgado e mesmo assim creio que minha pressão baixou calor dos infernos, dane-se o trópico! Quero as chuvas de volta e o frio também. Maybe... A mesma...
Ele continua ali nem sei se está mesmo olhando pra mim, as pessoas da sala agra riem de algum caso engraçado que o professor contou... Sem paciência, vou sair e fumar. Não sei que diabos ainda faço na Universidade! Mentira eu sei, cumprindo meu papel de pessoa “normal”, ao menos aqui fora tem vento, blocos firmes de concreto e pedras grandes do que as salas são feitas, começo a me questionar quantas pessoa matarão seus sonhos dentro da instituição que leva o nome de Universidade, que piada sem graça essa RS.. Feito coito interrompido, odeio! Quero ir pra casa. Pareço ter febre (fumando), mas não tenho, há não ser que seja interna quanto adolescente eu tinha problemas de garganta quando o psicológico era afetado, naquela época ela saia pra comprar remédios, fosse a hora que fosse (ainda fumando).
Lua crescente, vozes que se misturam alunos, professores discursando, as arvores mal se mechem, (sono). Volto pra sala e o dito continua no mesmo local, vou beber, falta pouco pro intervalo, volto a sala pra pegar minhas coisas, uma cola me diz que estou com os olhos bonitos, vivos, saltitantes, o que seriam olhos saltitantes? Bar na entrada da faculdade, melhor invenção, meia dúzia de gatos pingados, um cara com mais quatro garotas, todas sem sal, ele me viu, nada de mais, bom alguns anos atrás aquele bar me parecia menos família e mais pros perdidos, poxa será que só restava como perdida? Sentada pra beber sozinha, finalmente tinha feito isso, poderia ter companhia, mas não quero. Músicas chatas em seqüência, o som ligado na rádio local. Pensei em ligar pro Petrini dali, desisto, talvez quando chegar em casa, alguns rapazes na sinuca agora, eu perco até em jogo de palitinho.
O que há com essa porcaria de rádio? Deus me livre! Bar fervilhando agora, segunda cerveja, por favor! Garçom idiota! Mensagem no celular, ensaio, hoje? Ensaio...
Quero ir pra casa, termino logo essa cerveja, o lugar está ficando cheio de mais, jogo na TV, uma gritaria, pronto pra mim já deu, terminando de beber, acendendo o cigarro da saideira.
Sala de aula pra avisar ao professor que estou indo, tenho ensaio...
O besouro estúpido ainda no chão, pronto, piso em cima, tudo terminado, pra que ficar prolongando sofrimento?
O resto é bobeira o ensaio as mesmas conversas, dinheiro que ainda não saiu...
Não liguei nem matei o besouro, não quis ligar, mas gostaria de ter matado o besouro.




Cadência, decadência...


Que ele estava entre minhas pernas é óbvio, que ele achava estar em minhas entranhas? Sim mas era ridículo!
Lembro-me daquele ano, qualquer coisa entre oitenta e noventa, sem muitas mudanças depois de 86, apenas um novo endereço e outro apartamento, sim e daí eu tinha a plena noção do que encontraria.
Nada de novo e tudo sendo feito igual, mas e nova forma. Eu subia o terceiro andar, sempre de escadas era preciso fazer algum exercício além do sexo...
Ai porcaria! De certo que eu estava atrasada, mas sinceramente isso era o de menos se toda a minha vida eu passei chegando na hora errada certamente não seria agora que eu iria me concertar não é mesmo?
_ Bom dia senhorita, desculpe, mas o professor está atrasado, espero que não se incomode de esperar alguns minutos, tenho certeza de que ele está chegando.
A essa altura eu estava mais do que feliz, eu não era a única que chegada depois da hora.
O mais estranho é que todo aquele lugar me parecia familiar, a estátua de péssimo gosto, pra mim claro! Um lustre antigo que com certeza não era cristal, claro que eu mal tinha posses, melhor, posses nenhuma, mas os homens com quem eu havia-me “relacionado” e algumas mulheres haviam me mostrado que o mundo não se fez somente por conseqüência do mau gosto...
_ Mais alguns minutos e ele estará chegando.
Ao menos o tempo era frio e cinza, se estivesse quente ali eu realmente teria ido embora...
_ Senhorita, por favor, o Doutor Lucas acaba de chegar tenha a bondade de entrar.
Tenha a bondade de entrar? Em que década vivia aquele cara?
Bom a sala não me parecia muito mais do que imaginei e olha que sou boa em imaginar!
“Sente-se” E ele disse sem calor ou frio nas palavras.
Lembro-me do rosto dele, bom eu achei particularmente que seria alguém mais velho e até mesmo, deixa não importa...
“Então Virgínia, o que trás á mim além do óbvio?”
Ora! “Ele sabia perfeitamente que eu estava ali pra falar do projeto e...”
“Acha mesmo que o tal projeto poderia ajudar as pessoas que você menciona?”
Bom se eu não achasse, não estaria ali!
Bom, não era o começo o qual esperei, afina de contas tudo tinha sido visto e revisto, eu não era burra, não jogava sem julgar as possibilidades e embora fosse uma tragédia com minha vida eu não brincava com vidas alheias...
_Bom senhor, como pode ver eu deixei tudo detalhado no texto que apresenta o projeto e nas planilhas tudo tem fundamento e eu consultei advogados os quais me deram a certeza deque todo investimento feito em pró do projeto se bem aplicado e seguindo os fundamento não trariam nenhum prejuízo aquele que investisse.
_Por um acaso eu perguntei isso?
Quem era aquele cara ali quase da minha idade dizendo essas coisas assim?
“Se você fosse uma cor, qual seria?”
Que pergunta mais imbecil não era uma entrevista de emprego.
Numa fração de segundos ele abriu uma caixa de madeira, uma caixa de madeira?
Exatamente, uma caixa com uma radiola dentro, caramba! Havia muito tempo se é que eu tinha visto algo assim!
Ele apenas caminhou até a estante, nada fora do comum aos meus olhos, e escolheu um disco, tinha uma capa grande com nomes que de onde eu estava não conseguiria ler, retirou o velho vinil, colocou no aparelho que pra mim nem existia mais, andou como se o tempo pouco importasse e ele realmente importa?
Abriu uma gaveta, tirou papéis, os deixou em cima da cômoda, andou até o frigobar, que homem contraditório, pegou algo, algo pra beber, neste exato momento eu percebi algo, o cabelo assim como a barba eram grandes, até de mais pra alguém que lidava com o poder que eu julgava que ele tinha, esse mesmo cabelo caía na cara quando se abaixava pra pegar algo, tinha um nariz um tanto exagerado confesso, narizes querem dizer algo?
Não via mais seu rosto o cabelo não permitia...
_ Você bebe algo?
_Água com gás, por favor.
Quem disse?
Serviu-me dois dedos de vinho, mas há umas hora dessas?
E que falta de respeito era aquela?
_Virginia, por favor, sente-se de frente para aquele espelho?
_Como senhor?
_ Você é burra ou surda?
_ Como é?
_ Nenhum nem outro que eu bem sei...
Pois bem eu ia sair, que conversa era aquela, eu tinha ido apresentar um projeto no qual eu acreditava, no qual eu poderia ajudar pessoas no qual passei dois anos cuidando e velando pra que nada fugisse do planejado, gastei do meu bolso, tive essa idéia ainda na faculdade amadureci conheci pessoas e compartilhei sonhos e agora...
Não sei a freqüência do tempo, mas lembro o momento e lembro também de sentir que estava morrendo e alguma vez eu lembrava que tinha morrido e sabia como?
Pegando-me pelo braço ele disse “Agora preste atenção”
Eu estava de volta ao colegial, onde uma professora que eu nunca suportei me dizia “Você é nada e conseqüentemente por conta da sua ignorância não vai conseguir absolutamente nada.
_Deixa que eu a veja no espelho!
_Eu vou embora o senhor é louco!
_Senhor?
_Sou educada!
_É mentira...
Eu estava prestes a gritar, quando pude ver seu rosto de perto, tão perto que tive de piscar algumas vezes, só pra ver se estava vendo ou apenas delirando.
Eu conhecia aquele ser, aquela criatura que era mentira e agora se mostrava tão real, eu sabia da sua natureza, de como sugava tudo de bom que havia em outros, de como ria quando queria chorar e de como fingia chorar quando na verdade morria de rir por dentro.
A mão na minha boca fez parar a minha última intenção de son, a mão na minha boca fez com que eu sentisse seu perfume, perfume?
Tantas vezes eu quis saber como era seu cheiro, mas pelo amor de Deus! Isso tinha mais de sete anos e como pela misericórdia divina eu não o reconheci? Agora realmente eu não queria mais falar, ele disse o que eu diria, ele disse o que ele pretendia dizer...
“Quando me fez pensar que era mentira deixou que a verdade viesse á tona”
Continuou com a mão em minha boca, e respirava tão perto do meu ouvido que eu sinceramente achava que ia vomitar. Senhor como eu pedi que ele fosse mentira, como eu rezei noites seguidas e o projeto e as pessoas e...?
_ Esperei anos pra te dizer que não era mentira, esperei segundos que pareciam acorrentar meus sonhos, larguei carreira, lecionei, mas isso foi o de menos, eu deixei família, amores, lugar, passado pra que você não soubesse de mim até o devido momento, você me tinha em fotos e conversas, algumas vezes vozes...
_ Mentiu o tempo todo!
Eu estava numa sala terrivelmente decorada vestida com alguém que vai apresentar um projeto salvador de vidas, dependendo de um sim pra que tudo a meu redor mudasse, o homem na minha frente significava a morte de meu presente e a revolta do meu passado...
Eu juro que estava enjoada, eu juro que tentei me soltar, eu juro?
“Shiiiiiiiiii!”
_Não me manda calar a bocaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Sabe como eu odeio que me mandem calar a boca, sabe que eu...
Sei de tudo, sei da tentativa de suicídio, sei dos problemas de saúde, sei dos e das amantes, sei das noites em festas promíscuas, sei da sua solidão e da sua falsa vontade de ajudar pessoas quando na verdade nem consegue ajudar a si mesma...
Tudo que eu queria era força pra sair dali, tudo que eu queria era ficar.
A mão não estava mais em minha boca, a mão ia de encontro ao meu coração, sem maior sensualidade, ele apenas queria saber como andava meus batimentos...
Ainda assim eu caí, cai ali no carpete nem tão sujo nem tão limpo, é que em outros tempos e diria até em outra vida eu teria morrido por aquele toque, mas fazia anos que eu estava morta.
Ele iria então me matar, dando o golpe de misericórdia...
_ O projeto é uma porcaria, nada feito a Universidade tem um nome a zelar e não vai arriscar tanto dinheiro em algo tão subjetivo.
Eu era bicho adestrado no carpete, como se apenas esperasse a hora de comer e defecar, no entanto, eu ouvi suas palavras, eu juro que ouvi.
_ Desgraçado! Eu posso usar coisas contra você e sabe bem disso?
_ Minha querida! Sabe que tenho coisas suas até hoje?
Ele tinha mesmo, falei por falar a vergonha nunca iria permitir que eu revidasse, mas não fui eu quem o deixou, não fui eu quem mentiu e agora pergunto como ele chegou até ali, como chegou até mim?
_Eu vou embora...
_ Não, tenho algo pra você!
Desligou a vitrola que naquela altura eu nem lembrava mais o que tocava...
Silêncio. Desligou o ar do lugar, abriu as janelas eu já havia me levantado, mas estava longe de me recompor eu senti o vento entrar, eu vi outros prédios, eu senti que ia morrer...
Eu fiquei ali parada diante da janela eu fechei os olhos esperando o golpe final, eu morri?
Um som vinha agora de algo mais moderno, bem mais, uma música essa eu sabia qual era. Não virei de encontro ao seu rosto eu apenas fiquei...
“Lembra-se do tal abraço?”
Lembro do respirar, do prometido e nunca cumprido, lembro que deveria ter usado calça ao invés de saia, lembro que o cabelo estava prezo. Trouxe seu nariz até meu ouvido, disse que me mataria, pois eu o tinha matado, mas onde quando eu tinha feito isso?
Agora era botão por botão, agora eram fragmentos de frase e a porta sequer estava trancada, que espécie de vadia era eu que não revidava? Simples, uma vadia morta.
E tinha espamos como quem morre de algo súbito e tinha um respirar de quem ardia em fogo e brasa e vomitava cada palavra sem a menor decência e puxava meus cabelos como se quisesse cortar meu pescoço, eu juro não era muito mais que um pedaço de carne, algo inanimado...
_Virginia?
_Hum?
_ O celular despertou e você sequer ouviu?
_ Eu ouvi!
_ RS... Ta bem...
_Estou acordada. Estou não é?
_ Não sei, está?
_ Hum!
_ Tenho tempo para um café depois do banho?
_ Sim , você tem.
_ Ótimo café e rua, não tenho tanto tempo, afinal hoje é o grande dia!
Saí de calça e não prendi o cabelo, sinceramente eu não estava disposta.
“Taxi!”
_ Para onde senhora?
_ Edifício Caiçara, por favor!
_ Sim senhora!
_ Moço o sinal está vermelho! Moçooooooooooooooo o sinal!
“Vermelho! E eu que sempre gostei tanto do carmim...”












Paradoxal...


Por que morrer ali se tornava doce, não vou deixar bilhete algum, não tenho talento pra isso e por fim vou me tornar repetitivo, cansativo de mais, por enquanto era só apenas isso, o mar inteiro pra mim seria uma honra pra ele me ter em seus braços e deixar que eu meu corpo flutuasse sem pressa indo e vindo ao ritmo das ondas, sair de algum lugar que não conheço indo de encontro ao salgado, nem calor nem frio eis o mormaço, caso da semana passada nos jornais, ninguém iria lembrar por muito tempo e eu sinceramente espero não ser encontrado, de tal forma sem cova nem epitáfio, apenas indo.


Naquela última noite eu fui mais uma vez até a janela, vê-la pintar novamente, sabia que era o mesmo quadro pela escolha das tintas eu tinha decorado sua mecânica forma de pega-las, arrastava a cadeira até bem próximo da tela e por alguns segundos a olhava, era canhota, nada de mais, levantava a mão e a deixava assim por pouco tempo, apenas erguida e seu olhar via, mas não enxergava o mesmo quadro, os mesmo movimentos.


Bebi o mesmo suco, e por uma fração de segundos eu a vi sorrir, vi mesmo? Acho que não, dei uma volta pela sala olhando os livros que ainda restavam, alguns carcomidos já, não queria ouvir som algum que não fossem meus passos ou respiração, desisti e voltei pra janela, ela já tinha começado á pintar, as mesmas cores, que vadia idiota! Como se não soubesse que eu estava ali, eu sabia exatamente o próximo passo, pincel na água, pra que? Matiz, cores em matizes, óbvio de mais, o telefone tocou uma vez mais, desistiu, claro que eu sabia quem era tudo tão repetitivo, parou.


O pincel na tela novamente, quando ela ia terminar o maldito quadro? Será que tinha a petulância de achar que eu não sabia o que ela pintava de pernas abertas contra a tela, não possuía nada fora do comum, mais uma decadente entre tantas outras, achei de um descaramento e tanto quando se levantou foi até a cozinha e trouxe de lá um copo com gelo, também sei o que ia fazer. O gelo na tela, como se já não fosse o bastante fria pelas cores que usava azuis e beges, quão brega ela poderia ser meu Deus!


Ao invés de assumir que não tinha talento como a maioria insistia em se dizer pintora, o escambal! Quem ela era? Coisinha de nada...
Mas ali eu era doce, mesmo sendo intragável ele me levava embora, primeiro os sapatos que fui deixando por ali, meias, calça e cinto, não lembro as cores, camisa branca, nu finalmente, nu por inteiro mesmo que estivesse vestido, quem ela pensa que é?
Parecia que eu estava em transe, era a maresia, eu poderia ser apenas água agora, seria apenas água, sentei ainda por um tempo naquela areia, me senti parte de tudo aquilo, sendo que não sou parte nem um todo de nada
Artista! Que piada RS...


Dezembro de 98...


_ Então vai mesmo expor as telas?
_ Sim, vou sim.
_ São lindos os quadros!
_Obrigada, espero que os compradores também pensem assim...
_ E esse, quem é esse?
_ Não sei, não conheço (riso de canto de boca)
_ E como o pintou então?
_Bom inspiração é o que me move.
_Então pelo menos me diz como vai chamá-lo?
_ Voyeur.
_ Bom nome, mas não entendo o...
_ Não precisa, ele entendeu.
_ Seu telefone, não vai atender?
Parou por alguns minutos olhando o aparelho como se nunca tivesse visto algo tão estranho em toda sua vida, depois se voltou pra tela...
_ Não, deixa tocar.
_ Crê em fantasmas?
_ Como?
_ Perguntei se crê nessas coisas, magia, gente que morreu e volta pra atormentar os vivos!
_ Que bobagem, não, claro... Que não!
_ Novamente o telefone!
_ Não vou atender, já disse!
_ Tudo bem, poderia ser alguém querendo saber sobre a vernisagem, ou coisa do tipo, de qualquer forma se eu fosse você eu...
Foi até o aparelho, puxou o fio e olhou pra janela, nada ela continuava fechada, desde que terminou a tela ele não apareceu mais...
_ Procurando algo?
_ Não, acho que estou atrasada certo?
_ Deixe-e ver. Sim, mas um pouco só e é até charmoso isso hoje.
Ainda olhando a janela...
_ Pode me trazer o colar?
_ Como?
_ O colar, aquele dos cavalos marinhos. Está na gaveta da cômoda.
_ Posso claro.
_ Obrigada!
Religa o aparelho, vai até a janela, volta e agora resolve ligar...


_Claro que eu sei quem é!
_Mas não quero saber, vou pro mar como quem vai pra casa depois de anos longe e de uma guerra perdida...
_Nos poucos momentos que sentei na areia tive a impressão de não ser eu, infelizmente ainda era e nada conseguia mudar o fato, odeio fatos, consumados ou não, vai ser doce, assim como planejei.



_ Vai chover eu acho!
_ E agora essa! Tinha de ser justamente hoje!
_ Ta, agora vamos.
Como naquilo que chamam de dejavi algo aconteceu tão rápido quanto os olhos quando piscam e tão lento como o respirar de uma criança quando dorme.
A queda da escada, a quebra do colar, o quadro despencando da janela, ao contrário do que se pensa, não havia medo era tudo tão sublime, agora findou, simples assim.




_ Que nome esquisito pra um livro!
_ Desde quando livros precisam ter nomes considerados normais?
_ Está bem, entendo, não te encho mais. Estou indo, quer algo pra mais tarde, sei lá! Pra comer?
_ Estou bem, não precisa.
_ Ok até mais tarde então!
_ Sim, até!

Vai até a janela novamente...
_ Então ela não voltou mais, desde que terminei o livro!
Na estante perto dos livros velhos comprados em algum sebo da cidade iria colocar o seu, com nome esquisito e tudo: A corda do enforcado
_ Perfeito! _ Disse pra si mesmo.
_ Vai ser doce assim.











Inverno!


Julho. Faz frio, mas nesses meses, sempre faz frio...
Fez-me lembrar um dia, qualquer dia do passado em uma plataforma, não é um ano qualquer, não mesmo...
Nem qualquer lugar, Berlim, seria ali?
Dava pra ouvir os passos, usavam botas, mas se era em Berlim como eu poderia ouvir pássaros e ondas? O mar não poderia estar presente assim!
Além do que falavam em francês, acho engraçada essa língua, ouvi-la me dá fome, recordo bem nesse instante, dos olhos dela, branca como cera, olheiras roxas e olhos extremamente azuis, mas que o cinza ficava mergulhado, não se via reflexo neles, não se via nada, pra mim estava morta, detesto gente de olhos assim, são fantasmas, dos que ainda vivem, não, dos que sobrevivem, não estão vivos, eles ficam por ali analisando cada situação friamente o próximo passo, a próxima palavra, mas o olhar! O olhar sempre vazio...
Ouça estão se aproximando!
A mulher continua parada e eu ainda escuto o mar, na verdade posso até senti-lo agora, lambendo meus pés, que pés feios eu tenho! E pássaros? Mas o que eles fazem aqui?
Botas, casais começam a dançar, passos, a mulher ainda me observando, botas...
Não sei como fui parar naquela estação, mas eu prefiro o mar e os pássaros, por que não veio comigo? Preferiria mil vezes que fosse você ao invés desta pessoa de olhos tão grandes e vazios! Tem alguém cantando eu posso ouvir também, é doce o que canta e me dá sono, é quente aqui, mas pra que voltar pra estação?
Quando você partiu meados de inverno eu bem me lembro, você dizia “olha sempre se pode contar com um agasalho certo?” Lembra o que deixou pra mim em cima da cabeceira da cama? Claro que lembra, afinal foi a primeira e última vez que me deixou uma rosa, ao menos isso, daí nunca mais voltou agora ouço passos amor! Pra onde você foi mesmo? Acho que alguma coisa com seu trabalho e a falta de tempo blá blá blá o de sempre querido.
“Mas trarei presentes flor” Mas qual era mesmo o local?
Acho que deixei a janela aberta, e outra o chá está pronto, eu prefiro o de maçã verde, no dias frios me sento ao fim da tarde no jardim, ali ainda conservo algumas lembranças...
Ora veja! Ela também está ali, agora sua boca está tão vermelha como se tivesse sido mordida, um batom berrante eu diria, de mal gosto, ela sangra, Deus como é feia! Dá pra ver nitidamente os homens chegando, botas, Berlim, com certeza, lembro da estação, agora realmente faz frio de verdade eu nem consigo mais mexer os pés, onde foram parar as ondas?
Estou sem poder me mexer, caramba! Ta mais que frio, estou congelando, seria bom voltar pra casa agora, talvez eu possa começar pelos dedos, quem sabe! Nada mexe, olha os homens se aproximando, e a mulher cada vez mais perto, o trem, o trem, finalmente o trem vem vindo, uma fumaça tomando conta do local, porque o trem não chega antes dos homens e da mulher? Que porcaria...
Ela chegou primeiro, nem terminei meu chá, de perto é menos feia, mas só consigo enxergar as botas dos homens, onde estão seus rostos? Rosas? Centenas delas, eu só tinha uma, uma somente!
_ Do pó viemos e para ele voltaremos que nossa querida Alice esteja em um bom lugar, que Deus a mantenha em um bom lugar, amém!
_ Como eu poderia imaginar? As coisas foram tão rápidas eu mal tive tempo de pensar! Poderia saber que ela ia ao meu encontro?
_ Calma amigo, ninguém o está culpando aqui!
_ Prometi que voltaria e ficaria tudo bem eu cuidaria de tudo. Iríamos viajar, seriam férias em algum lugar quente como ela tinha pedido e... Alguma praia e...


É escuro aqui amor, não gosto de escuro, não que tenha medo, mas não gosto, a mulher de olhos vazios me abraçou beijou-me e se foi, ouço pancadas, como terra sobre madeira, Tum Tum Tum! Ou seria meu coração? Não tenho certeza...
Botas, elas sempre devem ficar assim, em contato com o chão, sempre. Tantas rosas, que lindo!



Saber de mim? Nem eu. Dependo de quem e como se faz tal expedição, de forma natural, mas nada convencional eu dou de cara com a outra no espelho, interessante mesmo é ela do outro lado não me reconhecer, tão pouco entendo essa personagem, os devaneios são tantos que passam despercebidos aos leigos que acreditam estar de frente para o banal, não se dão conta do quanto é complicado ser, apenas ser ou estar num contexto de mimese de sei lá quem, nessas horas eu vagueio vadia mesmo, solta ao vento, cuspindo novidades já contadas, evitando ruas conhecidas e pessoas estranhas, há não ser que eu as entenda, aí são outros quinhentos, dou-me por vencida não ao final do dia, mas quando me desligo dela, dou um tempo de mim, dou com o pé na porta e rio descaradamente das coisas mesquinhas que me tornam humana, faço das coisas pequenas dramas clássicos, apenas no intuito de nunca sair de cena, não há nada pior pra uma intérprete de si mesma do que a falta deles, os aplausos ainda que as mesmas mãos que te ovacionam, sejam as que logo em seguida apedrejem seu texto mal feito e as falas tão óbvias.


Desejo que cada momento saldado pela minha pessoa que não tem nenhum parentesco com o poeta seja feito terra batida quando misturada à chuva, lama pura, poço sem fundo, profunda saudade, acho tão chato o amanhecer, as cosias apenas recomeçam, no fim de tarde tudo parece parar e mais adiante nem se faz idéia do que virá, será que o sinal vai fechar e um motorista bêbado ou apenas desligado do tempo vai ultrapassar causando assim um acidente em alguém que acabou de sair da missa e tinha pedido encarecidamente, humildemente ao seu santo protetor que o protegesse em sua ida pra casa, quantas ironias mais vão surgir no fim de tarde, vai chover canivete ou o sol nunca irá se por?


Não aconselho vir por meu caminho, mas também não o desencorajo a me seguir é uma questão de bom senso, quero dizer não o tenha, mas não esqueça vai precisar dele, me arrependo sim do que faço, porém viver de arrependimentos não esclarece meus passos, então me enfeito de flores, sejam elas rosas ou flores vadias que beiram a calçada, aquelas que nascem em cada esquina, precisam apenas de um tampo de terra e lá estão.
Faça-me m favor não me entregue o jornal de hoje, prefiro que me presenteiem com uma taça de suposições, certezas me deixam aflita, no mais eu desisto de explicar o fundamento da alma ou a destreza do meu corpo, vai onde eu nunca fui, todavia não me mande cartões, me deixa querendo saber, se a comida for boa descreva nos pormenores, faça-me ter inveja, desacredite de tudo que digo mas leve á sério cada palavras solta em uma conversa despretensiosa, não declare seu amor ou carinho, me puxe pelos cabelos e rasgue minha blusa, não coma pelas beiradas, permita se queimar, não seque as mãos nem enxugue o rosto, salive em meu pescoço e diga coisas desconexas, eu preciso não precisar do que quero, e quero deixar a necessidade mandar em mim, dei tantas voltas ao meu redor que acabei por cair no buraco, era minha cova, que coisa! Não tinha me dado conta.


Portanto ao receber tal convite, espero que esteja muito bem comportado senhor, usando o terno que tanto gosto e salivando ao sabor de um ótimo chá, tenha um infarto ao ler o bilhete e queira logo em seguida viver ainda mais, seja como for venha como for, não faço idéia de quem sou e muito menos vou me guiar por passos de dança, soltei os cabelos, agora sim veja eu ali a visão de quem olha da janela é limitada, apenas um quadro em movimento, do lado de dentro da casa e olhando pela mesma janela eu vejo bem mais tenho entranhas estranhas e delirantes que gritam sem fazer barulho, ser estranha a mim mesma nunca me causou medo, na verdade me angustia, mas é algo mais como se eu fosse beber o último copo de tequila na última festa da minha vida, uma delícia que mata lentamente, prevendo saudade, porque não?