sábado, 31 de outubro de 2009

Diafragma!


Morro de medo todo momento, morro...
Eu quis dizer isso, mas você não ouviria você iria rir e dizer o de sempre “tudo vai dar certo”. Não deu, nada deu certo o certo é que houve um desnível entre nós a verdade mesmo é que as mentiras foram todas muito bem contadas, que nessa imensidão que se tornou meu quarto os passos se fizeram imprecisos e largos demais, você me escutou chamar? Não eu sei a resposta, não.
Mudei de perfume a cor do cabelo e as unhas curtas agora são compridas, tive uma dor terrível no peito, quase transferi minha conta pra outro banco, retirei meu sinal e deixei que os velhos discos fossem vendidos, você me ouviu chorar? De certo que não.
Foi tempo de mais em poucos meses, sussurros e gemidos lágrimas ao contrário, desci mais de onze andares a pé naquele dia, bebi com estranhos e fiz amor com mulheres divinas, perdi a hora do trabalho e dei com a cara em um poste. Você me viu partir? Não, evidente que não.
Pedi tantas vezes de formas evidentes e outras pragmáticas, roubei um livro pra ti, daqueles que não faz muito sucesso, mas que se pode tirar frases feitas, comprei o vinho que gosta. Viu-me? Creio que não...
Aprendi outras línguas no intuito de que me impedisse e finalmente largasse seu complexo de vitima pondo enfim a vírgula que faltava em nossa fala e se fazia entender diferente do que se dizia...
Você me leu? Eu sei que não!
Cuspi sim na sua cara, mas seu rosto era pedra fria e não consegui distinguir o que ele transpassava, a dor foi menor agora, dancei por tempo sem fim, sereia de mar aberto, são oceanos desmantelados e cheios de temporais, se eu ventar entre sua razão ainda assim não estará me sentindo...
Estrelas marinhas, corações fantasmagóricos, cavalos marinhos, meia hora de culpa, outras tantas de você em mim, fidelidade? Ouviu?
Nem uma coisa nem outra não quero aborrecê-lo, sei o quanto sou suscetível não devo ser levada á sério, mesmo assim estou centrada de que propositalmente ergui sua alma do nada, te dei algo maior do que seus textos e músicas, te dei aquilo que perdeu no decorrer da sua presunção, então como herança eu me quero de volta, mudei de ti pra morar em mim, quantas jovens ainda se vestem de flores pra sair a rua? Eu me visto...
Tem me visto? Não, definitivamente, não.

Melodia...drama...


03: 27 da madrugada...
Não consigo para de ouvir a música... Ah, we fade to grey
Simplesmente dormi antes que ela e fosse, deveria ser umas nove e alguma coisa, foi um sono imposto por mim, na minha doce ilusão de dormir até de manhã, mas eles voltaram os malditos sonhos sempre voltam, acordei depois da zero hora achando que era outro dia, que era amanhã, que idiotice de minha parte, ainda é hoje, infelizmente ainda é hoje...


Acordei chorando e a dor no peito ainda insistindo em estar ali, não sei ao certo em que ponto do sonho eu chorei e por qual motivo acorde assim. Eu acordei? Ah, we fade to Gray...


Liguei pra ela, só por não tem mais em que ou quem me apegar, já faz horas isso, falei do mal estar eu só queria mesmo ouvir uma voz conhecida, beco sem saída, pode ser. Já li e reli inúmeros textos, meus, dele, dos outros, de gente que nem sabe que eu os tenho ainda, de gente que ainda deve ter alguma coisa minha com ele, e pó que pelas caridades ainda não me devolveram, odeio fins de semana, feriados e tudo mais, a idiota aqui esqueceu de comprar cigarros, como uma fumante que não quer parar esquece de comprar seus companheiros das horas certas e incertas?


Vai saber eu já esqueci tanta coisa, mas segunda-feira está chegando aí, mais um dia de finados, eu nunca mais voltei ao túmulo dela, não teria motivos pra isso, ela não está mais lá, assim como minha prima levada por uma doença chamada câncer, doença eu que nomeio de coerção da alma, sim afinal de contas um caroço no estômago causado por sentimentos contidos e coisas mil não pode simplesmente dizer o que a matou.


Doença essa que penso eu vai me levar um dia quem sabe, no caso DELA, não me refiro a minha prima, sempre fazendo exames, eletros, etc. Mas nunca dava nada, um belo dia, um belo dia, que ironia, enfim, menos de 4 horas e três ataques cardíacos depois se acabou!
É sim, simples assim, de lá pra cá cinco anos se foram, quase cinco, eu morri durante uns dois anos creio eu, foi a primeira morte, mal sabia eu que viriam tantas outras, deixei de ser adolescente tarde de mais, fiquei velha muito mais rápido, no intuito de me deixar esquecida renasci outra, morri novamente renasci , é um círculo vicioso esse não?


Estou enjoada e não falo da minha gastrite, falo desta cidade, das pessoas, dos “amigos”, da vida social que fiz questão de matar, do curso que tanto amava, dos professores tão senhores do saber, estátuas de mármore. Não conheço a maioria das pessoas do prédio, com exceção de uma vizinha solicita que tenho ao lado, outra da frente que “Nossa eu acho tudo o teatro” Quantas vezes essa mulher viu uma peça meu Deus? Balela, tudo balela...


Uns três rapazes de olhar faminto quando passo ainda estudantes também, a cidade está cheia deles, que piada mais sem graça, todos se achando moderadores do mundo, futuros médicos, advogados, professores como eu, muitas meninas, muitos garotos, que merda!
Não faço mais questão desde meio, ou desta vida social, sou mesmo um bicho enjaulado, fazendo minha parte no papel da sociedade, Ok pode rir á partir de agora...


E, no entanto, eu ainda acordo chorando no meio da noite feito uma criança de 4 anos de idade, só a dor no peito me entrega, mais nada, sem mão pra segurar na hora do desespero, sem alguém que ouça o soluçar ou lamba minhas feridas, por isso eu cuido delas, de cada uma, com um querer maior ainda pelas mais antigas, todos os dias eu as limpo, e as cubro, mas o que fazer quando estas não querem cicatrizar? Ah, we fade to Gray...


Requentei a porcaria do café, amargo, eu detesto coisas ou pessoas doces de mais, me irritam e parece soar tão falso, esse povo sente dor? Não quero ser um deles, miss simpatia ou coisa do tipo, agradar Deus o mundo e os fundos, menos á mim. Bom dia, nossa como está bonita! Na verdade querendo dizer... Dane-se o dia você está péssima hoje!


Foda-se! Não estou pedindo pena, acho isso ridículo, não costumo ter, apenas quando considero o ser desprezível, eu sou desprezível? E por favor, não diga que sou dramática, afinal de contas não posso tocar sua mão e transpor o que sinto certo? Meu bem existe dois tipos de morte, uma conhecida por todos e outra, outra que só nós fantasmas conhecemos, mas se ainda sinto a dor no peito, o choro no meio da madrugada, vontade de acordar os vizinhos idiotas, gritar aqui de cima, ir pro meio da pista aos berros dizendo... Vocês é que estão mortos...


Então será mesmo que morri?
04: O3 Como eu gostaria de dormir agora...

Rotina, tic tac...


Achei que estava atrasada, no entanto, quando olhei no relógio o tempo parecia ter parado, fui acendendo todas as luzes o que não era nada bom, voltei e fui apagando todas,menos a do quarto ,comi alguma coisa muito rápido o estômago até estranhou, será que minha pressão caiu?
Banho tomado, aquele chamado banho de gato, decidi em seguida o que vestir, sem muita enrrolação pensei em usar lápis no olho, é realmente uma observação sem maior intenção, mas justamente hoje que eu queria estar com o olhar acentuado e por que não dizer profundo?
Estava com todos os sentidos aguçados e ao mesmo tempo eu estava lenta, lisérgica eu diria as vozes em eco, as cores borradas e o vento? Bom o vento já era de se esperar “Nem sempre pergunto somente o que não sei



So maybe tomorrow... Refrão da música indo e vindo na minha mente. “Talvez outro dia eu tenha tal resposta”. Já em sala de aula, aula essa que eu ouvi tudo, mas não assimilei nada, absolutamente nada, Brasil III, eu lá queria saber de oligarquias e coronelismo! Neste momento, exatamente agora ele entra em cena, ai próximo á porta do canto da parede, na última cadeira, no fundo da sala eu o encontrei, bem ali, na verdade não sei há quanto tempo ele tinha chegado, de pernas pra cima , sem conseguir voltar para baixo e seguir seu caminho...
Como alguma coisa rapidamente, a dor no peito voltou, fazia alguns meses que ela não me visitava, estaria incubada? Sei lá! O almoço estava tão salgado e mesmo assim creio que minha pressão baixou calor dos infernos, dane-se o trópico! Quero as chuvas de volta e o frio também. Maybe... A mesma...
Ele continua ali nem sei se está mesmo olhando pra mim, as pessoas da sala agra riem de algum caso engraçado que o professor contou... Sem paciência, vou sair e fumar. Não sei que diabos ainda faço na Universidade! Mentira eu sei, cumprindo meu papel de pessoa “normal”, ao menos aqui fora tem vento, blocos firmes de concreto e pedras grandes do que as salas são feitas, começo a me questionar quantas pessoa matarão seus sonhos dentro da instituição que leva o nome de Universidade, que piada sem graça essa RS.. Feito coito interrompido, odeio! Quero ir pra casa. Pareço ter febre (fumando), mas não tenho, há não ser que seja interna quanto adolescente eu tinha problemas de garganta quando o psicológico era afetado, naquela época ela saia pra comprar remédios, fosse a hora que fosse (ainda fumando).
Lua crescente, vozes que se misturam alunos, professores discursando, as arvores mal se mechem, (sono). Volto pra sala e o dito continua no mesmo local, vou beber, falta pouco pro intervalo, volto a sala pra pegar minhas coisas, uma cola me diz que estou com os olhos bonitos, vivos, saltitantes, o que seriam olhos saltitantes? Bar na entrada da faculdade, melhor invenção, meia dúzia de gatos pingados, um cara com mais quatro garotas, todas sem sal, ele me viu, nada de mais, bom alguns anos atrás aquele bar me parecia menos família e mais pros perdidos, poxa será que só restava como perdida? Sentada pra beber sozinha, finalmente tinha feito isso, poderia ter companhia, mas não quero. Músicas chatas em seqüência, o som ligado na rádio local. Pensei em ligar pro Petrini dali, desisto, talvez quando chegar em casa, alguns rapazes na sinuca agora, eu perco até em jogo de palitinho.
O que há com essa porcaria de rádio? Deus me livre! Bar fervilhando agora, segunda cerveja, por favor! Garçom idiota! Mensagem no celular, ensaio, hoje? Ensaio...
Quero ir pra casa, termino logo essa cerveja, o lugar está ficando cheio de mais, jogo na TV, uma gritaria, pronto pra mim já deu, terminando de beber, acendendo o cigarro da saideira.
Sala de aula pra avisar ao professor que estou indo, tenho ensaio...
O besouro estúpido ainda no chão, pronto, piso em cima, tudo terminado, pra que ficar prolongando sofrimento?
O resto é bobeira o ensaio as mesmas conversas, dinheiro que ainda não saiu...
Não liguei nem matei o besouro, não quis ligar, mas gostaria de ter matado o besouro.




Cadência, decadência...


Que ele estava entre minhas pernas é óbvio, que ele achava estar em minhas entranhas? Sim mas era ridículo!
Lembro-me daquele ano, qualquer coisa entre oitenta e noventa, sem muitas mudanças depois de 86, apenas um novo endereço e outro apartamento, sim e daí eu tinha a plena noção do que encontraria.
Nada de novo e tudo sendo feito igual, mas e nova forma. Eu subia o terceiro andar, sempre de escadas era preciso fazer algum exercício além do sexo...
Ai porcaria! De certo que eu estava atrasada, mas sinceramente isso era o de menos se toda a minha vida eu passei chegando na hora errada certamente não seria agora que eu iria me concertar não é mesmo?
_ Bom dia senhorita, desculpe, mas o professor está atrasado, espero que não se incomode de esperar alguns minutos, tenho certeza de que ele está chegando.
A essa altura eu estava mais do que feliz, eu não era a única que chegada depois da hora.
O mais estranho é que todo aquele lugar me parecia familiar, a estátua de péssimo gosto, pra mim claro! Um lustre antigo que com certeza não era cristal, claro que eu mal tinha posses, melhor, posses nenhuma, mas os homens com quem eu havia-me “relacionado” e algumas mulheres haviam me mostrado que o mundo não se fez somente por conseqüência do mau gosto...
_ Mais alguns minutos e ele estará chegando.
Ao menos o tempo era frio e cinza, se estivesse quente ali eu realmente teria ido embora...
_ Senhorita, por favor, o Doutor Lucas acaba de chegar tenha a bondade de entrar.
Tenha a bondade de entrar? Em que década vivia aquele cara?
Bom a sala não me parecia muito mais do que imaginei e olha que sou boa em imaginar!
“Sente-se” E ele disse sem calor ou frio nas palavras.
Lembro-me do rosto dele, bom eu achei particularmente que seria alguém mais velho e até mesmo, deixa não importa...
“Então Virgínia, o que trás á mim além do óbvio?”
Ora! “Ele sabia perfeitamente que eu estava ali pra falar do projeto e...”
“Acha mesmo que o tal projeto poderia ajudar as pessoas que você menciona?”
Bom se eu não achasse, não estaria ali!
Bom, não era o começo o qual esperei, afina de contas tudo tinha sido visto e revisto, eu não era burra, não jogava sem julgar as possibilidades e embora fosse uma tragédia com minha vida eu não brincava com vidas alheias...
_Bom senhor, como pode ver eu deixei tudo detalhado no texto que apresenta o projeto e nas planilhas tudo tem fundamento e eu consultei advogados os quais me deram a certeza deque todo investimento feito em pró do projeto se bem aplicado e seguindo os fundamento não trariam nenhum prejuízo aquele que investisse.
_Por um acaso eu perguntei isso?
Quem era aquele cara ali quase da minha idade dizendo essas coisas assim?
“Se você fosse uma cor, qual seria?”
Que pergunta mais imbecil não era uma entrevista de emprego.
Numa fração de segundos ele abriu uma caixa de madeira, uma caixa de madeira?
Exatamente, uma caixa com uma radiola dentro, caramba! Havia muito tempo se é que eu tinha visto algo assim!
Ele apenas caminhou até a estante, nada fora do comum aos meus olhos, e escolheu um disco, tinha uma capa grande com nomes que de onde eu estava não conseguiria ler, retirou o velho vinil, colocou no aparelho que pra mim nem existia mais, andou como se o tempo pouco importasse e ele realmente importa?
Abriu uma gaveta, tirou papéis, os deixou em cima da cômoda, andou até o frigobar, que homem contraditório, pegou algo, algo pra beber, neste exato momento eu percebi algo, o cabelo assim como a barba eram grandes, até de mais pra alguém que lidava com o poder que eu julgava que ele tinha, esse mesmo cabelo caía na cara quando se abaixava pra pegar algo, tinha um nariz um tanto exagerado confesso, narizes querem dizer algo?
Não via mais seu rosto o cabelo não permitia...
_ Você bebe algo?
_Água com gás, por favor.
Quem disse?
Serviu-me dois dedos de vinho, mas há umas hora dessas?
E que falta de respeito era aquela?
_Virginia, por favor, sente-se de frente para aquele espelho?
_Como senhor?
_ Você é burra ou surda?
_ Como é?
_ Nenhum nem outro que eu bem sei...
Pois bem eu ia sair, que conversa era aquela, eu tinha ido apresentar um projeto no qual eu acreditava, no qual eu poderia ajudar pessoas no qual passei dois anos cuidando e velando pra que nada fugisse do planejado, gastei do meu bolso, tive essa idéia ainda na faculdade amadureci conheci pessoas e compartilhei sonhos e agora...
Não sei a freqüência do tempo, mas lembro o momento e lembro também de sentir que estava morrendo e alguma vez eu lembrava que tinha morrido e sabia como?
Pegando-me pelo braço ele disse “Agora preste atenção”
Eu estava de volta ao colegial, onde uma professora que eu nunca suportei me dizia “Você é nada e conseqüentemente por conta da sua ignorância não vai conseguir absolutamente nada.
_Deixa que eu a veja no espelho!
_Eu vou embora o senhor é louco!
_Senhor?
_Sou educada!
_É mentira...
Eu estava prestes a gritar, quando pude ver seu rosto de perto, tão perto que tive de piscar algumas vezes, só pra ver se estava vendo ou apenas delirando.
Eu conhecia aquele ser, aquela criatura que era mentira e agora se mostrava tão real, eu sabia da sua natureza, de como sugava tudo de bom que havia em outros, de como ria quando queria chorar e de como fingia chorar quando na verdade morria de rir por dentro.
A mão na minha boca fez parar a minha última intenção de son, a mão na minha boca fez com que eu sentisse seu perfume, perfume?
Tantas vezes eu quis saber como era seu cheiro, mas pelo amor de Deus! Isso tinha mais de sete anos e como pela misericórdia divina eu não o reconheci? Agora realmente eu não queria mais falar, ele disse o que eu diria, ele disse o que ele pretendia dizer...
“Quando me fez pensar que era mentira deixou que a verdade viesse á tona”
Continuou com a mão em minha boca, e respirava tão perto do meu ouvido que eu sinceramente achava que ia vomitar. Senhor como eu pedi que ele fosse mentira, como eu rezei noites seguidas e o projeto e as pessoas e...?
_ Esperei anos pra te dizer que não era mentira, esperei segundos que pareciam acorrentar meus sonhos, larguei carreira, lecionei, mas isso foi o de menos, eu deixei família, amores, lugar, passado pra que você não soubesse de mim até o devido momento, você me tinha em fotos e conversas, algumas vezes vozes...
_ Mentiu o tempo todo!
Eu estava numa sala terrivelmente decorada vestida com alguém que vai apresentar um projeto salvador de vidas, dependendo de um sim pra que tudo a meu redor mudasse, o homem na minha frente significava a morte de meu presente e a revolta do meu passado...
Eu juro que estava enjoada, eu juro que tentei me soltar, eu juro?
“Shiiiiiiiiii!”
_Não me manda calar a bocaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Sabe como eu odeio que me mandem calar a boca, sabe que eu...
Sei de tudo, sei da tentativa de suicídio, sei dos problemas de saúde, sei dos e das amantes, sei das noites em festas promíscuas, sei da sua solidão e da sua falsa vontade de ajudar pessoas quando na verdade nem consegue ajudar a si mesma...
Tudo que eu queria era força pra sair dali, tudo que eu queria era ficar.
A mão não estava mais em minha boca, a mão ia de encontro ao meu coração, sem maior sensualidade, ele apenas queria saber como andava meus batimentos...
Ainda assim eu caí, cai ali no carpete nem tão sujo nem tão limpo, é que em outros tempos e diria até em outra vida eu teria morrido por aquele toque, mas fazia anos que eu estava morta.
Ele iria então me matar, dando o golpe de misericórdia...
_ O projeto é uma porcaria, nada feito a Universidade tem um nome a zelar e não vai arriscar tanto dinheiro em algo tão subjetivo.
Eu era bicho adestrado no carpete, como se apenas esperasse a hora de comer e defecar, no entanto, eu ouvi suas palavras, eu juro que ouvi.
_ Desgraçado! Eu posso usar coisas contra você e sabe bem disso?
_ Minha querida! Sabe que tenho coisas suas até hoje?
Ele tinha mesmo, falei por falar a vergonha nunca iria permitir que eu revidasse, mas não fui eu quem o deixou, não fui eu quem mentiu e agora pergunto como ele chegou até ali, como chegou até mim?
_Eu vou embora...
_ Não, tenho algo pra você!
Desligou a vitrola que naquela altura eu nem lembrava mais o que tocava...
Silêncio. Desligou o ar do lugar, abriu as janelas eu já havia me levantado, mas estava longe de me recompor eu senti o vento entrar, eu vi outros prédios, eu senti que ia morrer...
Eu fiquei ali parada diante da janela eu fechei os olhos esperando o golpe final, eu morri?
Um som vinha agora de algo mais moderno, bem mais, uma música essa eu sabia qual era. Não virei de encontro ao seu rosto eu apenas fiquei...
“Lembra-se do tal abraço?”
Lembro do respirar, do prometido e nunca cumprido, lembro que deveria ter usado calça ao invés de saia, lembro que o cabelo estava prezo. Trouxe seu nariz até meu ouvido, disse que me mataria, pois eu o tinha matado, mas onde quando eu tinha feito isso?
Agora era botão por botão, agora eram fragmentos de frase e a porta sequer estava trancada, que espécie de vadia era eu que não revidava? Simples, uma vadia morta.
E tinha espamos como quem morre de algo súbito e tinha um respirar de quem ardia em fogo e brasa e vomitava cada palavra sem a menor decência e puxava meus cabelos como se quisesse cortar meu pescoço, eu juro não era muito mais que um pedaço de carne, algo inanimado...
_Virginia?
_Hum?
_ O celular despertou e você sequer ouviu?
_ Eu ouvi!
_ RS... Ta bem...
_Estou acordada. Estou não é?
_ Não sei, está?
_ Hum!
_ Tenho tempo para um café depois do banho?
_ Sim , você tem.
_ Ótimo café e rua, não tenho tanto tempo, afinal hoje é o grande dia!
Saí de calça e não prendi o cabelo, sinceramente eu não estava disposta.
“Taxi!”
_ Para onde senhora?
_ Edifício Caiçara, por favor!
_ Sim senhora!
_ Moço o sinal está vermelho! Moçooooooooooooooo o sinal!
“Vermelho! E eu que sempre gostei tanto do carmim...”












Paradoxal...


Por que morrer ali se tornava doce, não vou deixar bilhete algum, não tenho talento pra isso e por fim vou me tornar repetitivo, cansativo de mais, por enquanto era só apenas isso, o mar inteiro pra mim seria uma honra pra ele me ter em seus braços e deixar que eu meu corpo flutuasse sem pressa indo e vindo ao ritmo das ondas, sair de algum lugar que não conheço indo de encontro ao salgado, nem calor nem frio eis o mormaço, caso da semana passada nos jornais, ninguém iria lembrar por muito tempo e eu sinceramente espero não ser encontrado, de tal forma sem cova nem epitáfio, apenas indo.


Naquela última noite eu fui mais uma vez até a janela, vê-la pintar novamente, sabia que era o mesmo quadro pela escolha das tintas eu tinha decorado sua mecânica forma de pega-las, arrastava a cadeira até bem próximo da tela e por alguns segundos a olhava, era canhota, nada de mais, levantava a mão e a deixava assim por pouco tempo, apenas erguida e seu olhar via, mas não enxergava o mesmo quadro, os mesmo movimentos.


Bebi o mesmo suco, e por uma fração de segundos eu a vi sorrir, vi mesmo? Acho que não, dei uma volta pela sala olhando os livros que ainda restavam, alguns carcomidos já, não queria ouvir som algum que não fossem meus passos ou respiração, desisti e voltei pra janela, ela já tinha começado á pintar, as mesmas cores, que vadia idiota! Como se não soubesse que eu estava ali, eu sabia exatamente o próximo passo, pincel na água, pra que? Matiz, cores em matizes, óbvio de mais, o telefone tocou uma vez mais, desistiu, claro que eu sabia quem era tudo tão repetitivo, parou.


O pincel na tela novamente, quando ela ia terminar o maldito quadro? Será que tinha a petulância de achar que eu não sabia o que ela pintava de pernas abertas contra a tela, não possuía nada fora do comum, mais uma decadente entre tantas outras, achei de um descaramento e tanto quando se levantou foi até a cozinha e trouxe de lá um copo com gelo, também sei o que ia fazer. O gelo na tela, como se já não fosse o bastante fria pelas cores que usava azuis e beges, quão brega ela poderia ser meu Deus!


Ao invés de assumir que não tinha talento como a maioria insistia em se dizer pintora, o escambal! Quem ela era? Coisinha de nada...
Mas ali eu era doce, mesmo sendo intragável ele me levava embora, primeiro os sapatos que fui deixando por ali, meias, calça e cinto, não lembro as cores, camisa branca, nu finalmente, nu por inteiro mesmo que estivesse vestido, quem ela pensa que é?
Parecia que eu estava em transe, era a maresia, eu poderia ser apenas água agora, seria apenas água, sentei ainda por um tempo naquela areia, me senti parte de tudo aquilo, sendo que não sou parte nem um todo de nada
Artista! Que piada RS...


Dezembro de 98...


_ Então vai mesmo expor as telas?
_ Sim, vou sim.
_ São lindos os quadros!
_Obrigada, espero que os compradores também pensem assim...
_ E esse, quem é esse?
_ Não sei, não conheço (riso de canto de boca)
_ E como o pintou então?
_Bom inspiração é o que me move.
_Então pelo menos me diz como vai chamá-lo?
_ Voyeur.
_ Bom nome, mas não entendo o...
_ Não precisa, ele entendeu.
_ Seu telefone, não vai atender?
Parou por alguns minutos olhando o aparelho como se nunca tivesse visto algo tão estranho em toda sua vida, depois se voltou pra tela...
_ Não, deixa tocar.
_ Crê em fantasmas?
_ Como?
_ Perguntei se crê nessas coisas, magia, gente que morreu e volta pra atormentar os vivos!
_ Que bobagem, não, claro... Que não!
_ Novamente o telefone!
_ Não vou atender, já disse!
_ Tudo bem, poderia ser alguém querendo saber sobre a vernisagem, ou coisa do tipo, de qualquer forma se eu fosse você eu...
Foi até o aparelho, puxou o fio e olhou pra janela, nada ela continuava fechada, desde que terminou a tela ele não apareceu mais...
_ Procurando algo?
_ Não, acho que estou atrasada certo?
_ Deixe-e ver. Sim, mas um pouco só e é até charmoso isso hoje.
Ainda olhando a janela...
_ Pode me trazer o colar?
_ Como?
_ O colar, aquele dos cavalos marinhos. Está na gaveta da cômoda.
_ Posso claro.
_ Obrigada!
Religa o aparelho, vai até a janela, volta e agora resolve ligar...


_Claro que eu sei quem é!
_Mas não quero saber, vou pro mar como quem vai pra casa depois de anos longe e de uma guerra perdida...
_Nos poucos momentos que sentei na areia tive a impressão de não ser eu, infelizmente ainda era e nada conseguia mudar o fato, odeio fatos, consumados ou não, vai ser doce, assim como planejei.



_ Vai chover eu acho!
_ E agora essa! Tinha de ser justamente hoje!
_ Ta, agora vamos.
Como naquilo que chamam de dejavi algo aconteceu tão rápido quanto os olhos quando piscam e tão lento como o respirar de uma criança quando dorme.
A queda da escada, a quebra do colar, o quadro despencando da janela, ao contrário do que se pensa, não havia medo era tudo tão sublime, agora findou, simples assim.




_ Que nome esquisito pra um livro!
_ Desde quando livros precisam ter nomes considerados normais?
_ Está bem, entendo, não te encho mais. Estou indo, quer algo pra mais tarde, sei lá! Pra comer?
_ Estou bem, não precisa.
_ Ok até mais tarde então!
_ Sim, até!

Vai até a janela novamente...
_ Então ela não voltou mais, desde que terminei o livro!
Na estante perto dos livros velhos comprados em algum sebo da cidade iria colocar o seu, com nome esquisito e tudo: A corda do enforcado
_ Perfeito! _ Disse pra si mesmo.
_ Vai ser doce assim.











Inverno!


Julho. Faz frio, mas nesses meses, sempre faz frio...
Fez-me lembrar um dia, qualquer dia do passado em uma plataforma, não é um ano qualquer, não mesmo...
Nem qualquer lugar, Berlim, seria ali?
Dava pra ouvir os passos, usavam botas, mas se era em Berlim como eu poderia ouvir pássaros e ondas? O mar não poderia estar presente assim!
Além do que falavam em francês, acho engraçada essa língua, ouvi-la me dá fome, recordo bem nesse instante, dos olhos dela, branca como cera, olheiras roxas e olhos extremamente azuis, mas que o cinza ficava mergulhado, não se via reflexo neles, não se via nada, pra mim estava morta, detesto gente de olhos assim, são fantasmas, dos que ainda vivem, não, dos que sobrevivem, não estão vivos, eles ficam por ali analisando cada situação friamente o próximo passo, a próxima palavra, mas o olhar! O olhar sempre vazio...
Ouça estão se aproximando!
A mulher continua parada e eu ainda escuto o mar, na verdade posso até senti-lo agora, lambendo meus pés, que pés feios eu tenho! E pássaros? Mas o que eles fazem aqui?
Botas, casais começam a dançar, passos, a mulher ainda me observando, botas...
Não sei como fui parar naquela estação, mas eu prefiro o mar e os pássaros, por que não veio comigo? Preferiria mil vezes que fosse você ao invés desta pessoa de olhos tão grandes e vazios! Tem alguém cantando eu posso ouvir também, é doce o que canta e me dá sono, é quente aqui, mas pra que voltar pra estação?
Quando você partiu meados de inverno eu bem me lembro, você dizia “olha sempre se pode contar com um agasalho certo?” Lembra o que deixou pra mim em cima da cabeceira da cama? Claro que lembra, afinal foi a primeira e última vez que me deixou uma rosa, ao menos isso, daí nunca mais voltou agora ouço passos amor! Pra onde você foi mesmo? Acho que alguma coisa com seu trabalho e a falta de tempo blá blá blá o de sempre querido.
“Mas trarei presentes flor” Mas qual era mesmo o local?
Acho que deixei a janela aberta, e outra o chá está pronto, eu prefiro o de maçã verde, no dias frios me sento ao fim da tarde no jardim, ali ainda conservo algumas lembranças...
Ora veja! Ela também está ali, agora sua boca está tão vermelha como se tivesse sido mordida, um batom berrante eu diria, de mal gosto, ela sangra, Deus como é feia! Dá pra ver nitidamente os homens chegando, botas, Berlim, com certeza, lembro da estação, agora realmente faz frio de verdade eu nem consigo mais mexer os pés, onde foram parar as ondas?
Estou sem poder me mexer, caramba! Ta mais que frio, estou congelando, seria bom voltar pra casa agora, talvez eu possa começar pelos dedos, quem sabe! Nada mexe, olha os homens se aproximando, e a mulher cada vez mais perto, o trem, o trem, finalmente o trem vem vindo, uma fumaça tomando conta do local, porque o trem não chega antes dos homens e da mulher? Que porcaria...
Ela chegou primeiro, nem terminei meu chá, de perto é menos feia, mas só consigo enxergar as botas dos homens, onde estão seus rostos? Rosas? Centenas delas, eu só tinha uma, uma somente!
_ Do pó viemos e para ele voltaremos que nossa querida Alice esteja em um bom lugar, que Deus a mantenha em um bom lugar, amém!
_ Como eu poderia imaginar? As coisas foram tão rápidas eu mal tive tempo de pensar! Poderia saber que ela ia ao meu encontro?
_ Calma amigo, ninguém o está culpando aqui!
_ Prometi que voltaria e ficaria tudo bem eu cuidaria de tudo. Iríamos viajar, seriam férias em algum lugar quente como ela tinha pedido e... Alguma praia e...


É escuro aqui amor, não gosto de escuro, não que tenha medo, mas não gosto, a mulher de olhos vazios me abraçou beijou-me e se foi, ouço pancadas, como terra sobre madeira, Tum Tum Tum! Ou seria meu coração? Não tenho certeza...
Botas, elas sempre devem ficar assim, em contato com o chão, sempre. Tantas rosas, que lindo!



Saber de mim? Nem eu. Dependo de quem e como se faz tal expedição, de forma natural, mas nada convencional eu dou de cara com a outra no espelho, interessante mesmo é ela do outro lado não me reconhecer, tão pouco entendo essa personagem, os devaneios são tantos que passam despercebidos aos leigos que acreditam estar de frente para o banal, não se dão conta do quanto é complicado ser, apenas ser ou estar num contexto de mimese de sei lá quem, nessas horas eu vagueio vadia mesmo, solta ao vento, cuspindo novidades já contadas, evitando ruas conhecidas e pessoas estranhas, há não ser que eu as entenda, aí são outros quinhentos, dou-me por vencida não ao final do dia, mas quando me desligo dela, dou um tempo de mim, dou com o pé na porta e rio descaradamente das coisas mesquinhas que me tornam humana, faço das coisas pequenas dramas clássicos, apenas no intuito de nunca sair de cena, não há nada pior pra uma intérprete de si mesma do que a falta deles, os aplausos ainda que as mesmas mãos que te ovacionam, sejam as que logo em seguida apedrejem seu texto mal feito e as falas tão óbvias.


Desejo que cada momento saldado pela minha pessoa que não tem nenhum parentesco com o poeta seja feito terra batida quando misturada à chuva, lama pura, poço sem fundo, profunda saudade, acho tão chato o amanhecer, as cosias apenas recomeçam, no fim de tarde tudo parece parar e mais adiante nem se faz idéia do que virá, será que o sinal vai fechar e um motorista bêbado ou apenas desligado do tempo vai ultrapassar causando assim um acidente em alguém que acabou de sair da missa e tinha pedido encarecidamente, humildemente ao seu santo protetor que o protegesse em sua ida pra casa, quantas ironias mais vão surgir no fim de tarde, vai chover canivete ou o sol nunca irá se por?


Não aconselho vir por meu caminho, mas também não o desencorajo a me seguir é uma questão de bom senso, quero dizer não o tenha, mas não esqueça vai precisar dele, me arrependo sim do que faço, porém viver de arrependimentos não esclarece meus passos, então me enfeito de flores, sejam elas rosas ou flores vadias que beiram a calçada, aquelas que nascem em cada esquina, precisam apenas de um tampo de terra e lá estão.
Faça-me m favor não me entregue o jornal de hoje, prefiro que me presenteiem com uma taça de suposições, certezas me deixam aflita, no mais eu desisto de explicar o fundamento da alma ou a destreza do meu corpo, vai onde eu nunca fui, todavia não me mande cartões, me deixa querendo saber, se a comida for boa descreva nos pormenores, faça-me ter inveja, desacredite de tudo que digo mas leve á sério cada palavras solta em uma conversa despretensiosa, não declare seu amor ou carinho, me puxe pelos cabelos e rasgue minha blusa, não coma pelas beiradas, permita se queimar, não seque as mãos nem enxugue o rosto, salive em meu pescoço e diga coisas desconexas, eu preciso não precisar do que quero, e quero deixar a necessidade mandar em mim, dei tantas voltas ao meu redor que acabei por cair no buraco, era minha cova, que coisa! Não tinha me dado conta.


Portanto ao receber tal convite, espero que esteja muito bem comportado senhor, usando o terno que tanto gosto e salivando ao sabor de um ótimo chá, tenha um infarto ao ler o bilhete e queira logo em seguida viver ainda mais, seja como for venha como for, não faço idéia de quem sou e muito menos vou me guiar por passos de dança, soltei os cabelos, agora sim veja eu ali a visão de quem olha da janela é limitada, apenas um quadro em movimento, do lado de dentro da casa e olhando pela mesma janela eu vejo bem mais tenho entranhas estranhas e delirantes que gritam sem fazer barulho, ser estranha a mim mesma nunca me causou medo, na verdade me angustia, mas é algo mais como se eu fosse beber o último copo de tequila na última festa da minha vida, uma delícia que mata lentamente, prevendo saudade, porque não?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Todo mundo sente!


A minha dor não é uma dor de muita gente não, é mais minha que de qualquer outro, é coisa cortante que quando chove anuncia mais uma lágrima serena, nem marca muito porque tem vergonha de só ser, não busca muitos questionamentos, nem se irrita com as cores misturadas no fim de tarde por onde vejo pessoas que passam um menino que tropeça e uma moça que canta sem ligar pra afinação, fico de cá sem me dar conta de quanto tempo se passou, nem quantas saudades ainda tenho, de que ou de quem?
Evito procurar respostas, assim eu não dou voltas ao meu redor, ficaria tonta a acabaria por cavar minha sepultura, é melhor falar de dor?
Dor é assim, você sabe que machuca, algumas vezes toma um remédio que diminui a aflição, mas se volta a febre é sinal que não se combateu o verdadeiro mal, algumas dores são causadas por querer, parece absurdo eu bem sei, mas elas estão por ai espalhadas, vivas e mostrando que por vezes são desejadas, outras provocadas por alheios sequer sabem como foram parar em tal pessoa, acho que a moça parou de cantar...
Dor de dente, credo! É uma das piores, dor fina que aparece em alguns momentos, vai estourar a mente, é assim a sua dor?
A minha é uma dor atemporal, tranqüila, fica pouco tempo, mas dói em parcelas, se ao menos matasse de vez, mas não, nem morre e nem vive, às vezes vem com uma música, ou uma palavra que quem a disse não faz idéia do mal que causou, é dor de noite fria e pingos no telhado, dor de falta ébria, que vai rompendo a madrugada e dá alarme ao amanhecer, compro livros, flores, cristais e velas, deixo tudo pronto pra quando ela chegar, dor de criança com cólica, que não sabendo falar ,chora ,dor de despedida em rodoviária, sem a certeza do retorno, mas que deixa aquele querer mais, que fadiga o juízo e proíbe qualquer falta de esperança, mas a incerteza é o que resta e se apegar á tal visgo é loucura, escorregar nesses velhos devaneios também é.
Não disse! Chuva...
Começa com os pássaros correndo pra se esconder, depois um vento tímido, calado, mas logo o cheiro, que sai dominando a casa toda, fecham-se janelas, acendem-se luzes, procuram-se lampiões, e mesmo assim, ela desce, o mesmo relâmpago, anuncia a mesma dor, mas de forma diferente, ainda assim vem, compro alguma essência que tenha cheiro de quietude, que é pra eu me esconder no fundo do quintal nesses dias, e nesses mesmos dias eu costumo ouvir qualquer coisa parecida com melodia molhada, mares, lagos, rios, lagoas, tudo caindo do céu, a minha dor expande como chuva, as vezes cálida, as vezes neurótica, vai da maneira como todos se encontram, leva casas, lava ruas, decifra o rancor, perpetua toda e qualquer falta de si mesmo.
Destrambelha o córrego, e vez por outra arranca flores de onde elas nunca deveriam nascer na beira do poço velho, os bichos também são medo, cobras, lagartos, uma renascença que pode matar, trazendo outra verdade, dor é como quando você quer comer algo que não sabe o que é.O desejo aumenta, mas não é fome, é vontade de não sei o que, é como eu disse saudade de quem ou do que, é preferível não saber, ainda continuo sendo uma vírgula entre uma comparação e outra.

domingo, 9 de agosto de 2009


Era uma vez (e não poderia ser diferente) uma velhinha que morava numa casa antiga, (eu sei parece com outras histórias) junto com dois gatos, a velhinha já meio cega e deslembrada das coisas deixava tudo pelos cantos e esquecia onde as largava, pois bem, num desses dias, nesses fins de tarde quando o vento para, as folhas não dançam, neste exato momento um monte de outras pessoas nasciam, crianças choravam, namorados se agarravam (aquilo pra ela era o fim), naquele exato momento onde um beija-flor parava de frente pra uma porta de uma cozinha qualquer, a velhinha acabava de perder alguma coisa, e como sempre andava por todo o casebre perguntando pras fotos amarelas e pros seus dois gatos brancos...
_Onde diabos eu perdi aquela linha?
Pois então! Sabe-se lá onde não é?
Ela tinha uma cozinha cheia de coisas coloridas, tigelas antigas com desenhos de 1900 e guaraná com rolha, pratos tão fundos que dava pra tomar banho, enfim, ela tinha a tal mesa e cismou que a tal linha poderia ter ser perdido embaixo dela, de madeira trabalhada que em algum tempo passado havia sido uma Jacarandá enorme, pobre velhinha se agachar naquela idade, procurando uma linha que ela nem sequer lembrava-se da cor, muito sofrimento, os dois gatos apenas se entreolhavam e olhavam sua dona, e lá sei foi ela...
Até hoje os vizinhos ser perguntam...
_Onde foi parar a senhora simpática, aquela dos gatinhos?
Reza a lenda que ela ao ir embaixo da mesa acabou ficando por lá, tinha perdido tantas coisas ali que sequer havia se dado conta de quantas lembranças se perderam. Jóias da mãe, fotos dos irmãos, o casaco do marido, a blusa azul que sua bisa tinha tricotado, uma boneca que ela pensara ter dado de presente a sua neta, uma colcha de retalhos que nem havia terminado de bordar, o espelho da tia, foi juntando tudo, coisas diversas, gosto de café, balas de puxa puxa, pinceladas de ventos idos, calores, angústias, risos, choros, amores...
A velhinha foi diminuindo de tamanho, ficando cada vez menor, tão pequetita, tão tão que de repente!
_Mãnheeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Olha o que achei!
_É uma foto da vovó Sofia!
_ Mas a vovó foi criança?
_Mas que pergunta é essa Sofia? Todo mundo foi.

_Posso ficar pra mim?
_Se prometer cuidar bem, pode sim.
_Prometeio mãe!
_É prometo menina!
_Prometo menina!
_Você entendeu.
_Vó vou esconder você aqui, embaixo da minha escrivaninha, e vou te contar uma história. Era uma vez uma velhinha que ser perdeu embaixo da mesa...

Colorido é mais bonito...







prefGabriel Enrique!
Biel o rico...
Quando olha pro alto grita...
“Passalinho que chom é eche?”
Biel fez um desses piu pius na peça da escola.
De olhos verdinhos, perdido nas bolhas de sabão que o ensinei a fazer
Menino safadenho que ri da minha cara e tem tara pelos desenhos do pica-pau
“Titiaaaaaa o que é tara?”
Cabelo clarinho meio amarelinho se confunde com o pôr do sol...
Menino levado que nem sendo levado dorme na hora que criança têm de dormir
“Cadê minha mamãe titiiaaaaaaaa?”
Sabe das coisas e finge que não, dança engraçadinho de andar ligeirinho que quando corre um pouco mais finge morrer de rir no chão.
Toma gagau, pois nem pega mais peitinho, mas dorme aconchegado no compasso da bateria do coração da mamãe.
Promete pra mim que não vai crescer?
Está bem, isso é complicado, então promete pra mim que vai crescer bem devagarzinho?
Vai rir das minhas brincadeiras e tudo que parece sem graça vai continuar sendo os melhores brinquedos, vai me chamar bem baixinho pra contar um segredo que nem existe...
“Vem aqui titia, só um pouquinho”
Vai me tirar o juízo de tanto chamar...
“TIA”!
“TIA”
“TIA”
“Oi Biel”
Soninho carregado, amiguinho imaginário, te compro o cavalo com asas que você me pediu, historinha da qual ele faz parte, junto com a piscina gigante, te compro um copo de sonhos pra você tomar antes de nanar, junto suas birras e a cara feia de quando acorda, deixo você colorir a parede. É que com o tempo Biel crescer deixa muita gente feia, a tia sabe o que diz, mas quem sabe o que faz mesmo é você.
“Binina, oh binina vem cá!”
Passarinho, que som é esse?

Perdão, mas farei uma pequena adaptação...
Menininho do meu coração eu só quero você a três palmos do chão...
Perdão Poeta =9

Psicopatia!


Madrugada estranha essa...
Lembro-me da cena, como se estivesse acontecendo agora, um lugar desses que você vai pra ser você mesmo, ou pra deixar que seus personagens aflorem, foi sim, bem assim...
O som era um tanto hipnótico e ao mesmo tempo angustiante, a porta principal se abre, nada fora do comum, se não fosse pelo detalhe de além do frio entrar, junto com ele, o frio, ela, que ao mesmo tempo parecia o gelo em pessoa, fazia tudo ali dentro queimar, mais incomum ainda seria ela entrar no lugar com um cão do lado, mas permitiam animais ali? Além de nós que eu saiba não.
É mas ela entrou, junto com o cão, enorme, de olhos azuis quase transparentes, acho que daquela raça siberiana, mas nunca tinha visto um cão como aquele, é que seu pelo era luminoso, ou seria a luz do local e algumas doses extras que me fez pensar assim? Se for isso estávamos todos bêbados...
E que eu me lembre nunca a tinha visto naquele lugar, bom, de qualquer forma aquilo transpassava qualquer coisa que eu tenha visto mesmo, e foi assim, ela foi tomando o local pra si, no primeiro instante alguns poucos olhares se voltaram, a música baixou, mas quem baixou a música?
Que me lembre ela não era nada diferente do resto das mulheres, bom a não ser pelo fato de ser baixa, ali sempre tinha mulheres mais altas, que realmente chamavam atenção, mas vejam você, usava um vestido de pouco comprimento, que parecia ser costurado em seu corpo, acha que era de cor pele junto com branco, era meio que uma mistura de segunda pele e pele de urso? Bom era isso que parecia, uma toca sobre a cabeça e um cachecol no pescoço que pareciam vários pontos de neve caindo, que bordado estranho! Botas, botas até próximo do joelho, e seu rosto?
Bem o som voltou a subir, outra música ainda mais angustiante começava a tocar, uma mistura de tambores com vozes ao fundo, e foi assim...
Ela deixou o cão com o cara que tomava de contas das coisas das pessoas na casa, foi entrando como quem tem tudo e nada, não olhava diretamente pra ninguém ou lugar algum, eu bem na verdade se não fosse pela bebida e outras coisas, juraria que ela sequer tocava o chão, vinha como uma assombração, algo que surge do passado pra te atormentar, sem tirar o capuz, começou a andar por entre os outros na pista de dança, foi abrindo espaço sem fazer o mínimo de esforço, mas o que era aquilo meu Deus? E eu a chamei de aquilo, pois pra mim estava longe de ser algo real, ao que pude ir notando eu não seria o único, inferno na terra foi o que vi a partir dali, começou sua dança satânica, porque aquilo não poderia ser uma simples mulher dançando, o meio da pista se abriu, tinha um casaco! Como não pude notar? Era um casaco junto com o capuz, ela foi tirando quase sem se mover, nem precisava, é que ela parecia uma serpente, era a hora de ver seu rosto, luz infernal, como poderia ver seu rosto?
As pessoas cada vez mais uma por uma iam parando no meio da dança, ela tinha dominado tudo quanto era espaço aquela coisa magra, estranha, baixinha, agora sim! Cabelos curtos, espetados, como algumas fadas dos desenhos e histórias que no passado ouvíamos falar, desgraçadamente eu tinha ficado ali no bar, parado com aquele copo na mão, estupidamente parado, e nem sequer conseguia me mover, ela andava como uma onda que traga você pra morte, mas ao mesmo tempo você se delicia, ao saber que vai morrer de tal forma, aproximou-se e a maldita música não parava, fez um paço no qual quase ficava de joelhos aos meus pés, subiu se contorcendo como quem sofresse de dor profunda, quem disse que eu conseguia me mover?
Filha da puta! Então vi seus olhos, olhos que vi por meses, mas que, no entanto nunca havia tocado, caralho! Mas ela estava diferente, ela queimava, mas estava morta, não tinha como ser ela, como havia chegado até ali, como havia descoberto onde esse verme dito como homem vagava um antro chique e decadente, tudo ao mesmo tempo, numa cidade onde coisas equivocadas se misturavam com sujeiras provocadas, onde esse cara imundo sem se aproximar nunca dela tinha destruído sua mente, acabado com alguns poucos sonhos seus...
A menina nem tão menina assim, agora tinha todo o lugar pra si, as pessoas nem se aproximavam, os homens?
Gargalhem meus amigos, os homens simplesmente arregalavam os olhos sem saber o que estava acontecendo, a vadia os tinha na mão, a porcaria do seu corpo fazia isso, a música acelerou...
_Se liga cara é ela, se liga como ela chegou até aqui? E mais que porra que o tempo fez com ela, ela não envelheceu um dia, ta me ouvindo?
Eu sei que música era aquela, tudo que eu queria era cair fora daquele lugar, maldito pesadelo, mas não, não queria mesmo acordar!
Eu lembro daqueles olhos, de como os vi noites após noites, mas nunca os toquei, os vi chorar, outras vezes ouvi sua voz, chorava tanto de tristeza, como de dor e prazer, eu ouvi aquela mulher gozar no meu ouvido, não foi imaginação, estou sendo mais que verdadeiro, este não é meu forte, mas neste momento é tudo verdade, era do tipo que quando gozava chorava feito criança, e se dizia a minha vadia, estava ali, uma que um dia chamei de flor, agora mais me parecia erva daninha...
Mudou a música, uma que falava de lembrança, as pessoas meio que acordaram, nem se deram mais conta de que ela estava ali, ela vinha vindo, vagarosamente, chorosamente, em minha direção, meu amigo como que vendo o demônio a sua frente saiu sem dizer nada, e o que ele iria dizer? Afinal no meio desta palhaçada toda, ele também serviu de pano de fundo para as minhas tramóias, falsas doenças, idas ao exterior, mãe doente, empréstimos que eu nunca havia dado pra ajudar seu ninguém, eu era apenas um filho da puta, que me divertia tirando o juízo de garotas solitárias...
_É você de verdade, de verdade...
_Não, faz tempo que não sou eu de verdade.
_E quem é você agora? E como diabos você conseguiu chegar até aqui?
_Perguntas erradas, a pergunta certa é: O que eu vim fazer aqui?

Senhor eu amei aquela criatura verdadeiramente e por amá-la mesmo sendo um ser que nada valho eu amei, de uma forma suja, sórdida e ao mesmo tempo o tudo mais puro que tive na merdinha de vida que levo o preço mais alto, ela me tirou de si completamente, nunca me ensinou como retira-la de mim, eu tinha quem bem queria, da forma como queria, as transas mais loucas, sempre foi assim, a mulherada vinha como mel, mas aquele maldito corpo, os gemidos, sussurros, as risadas, a voz baixando quanto tinha vergonha, lágrimas, risos, uma grande peça, não pra menos, ela era atriz, agora eu era não muito mais que uma personagem de seus contos, a vadia ainda me chamava de vida... AHAHAHAHHA... Vida...
Os olhos, olhos famintos, os olhos de sempre, buscando algo que lhe tinha tirado há muitas vidas atrás, eu dizia que aqueles olhos dela poderiam levar a desgraça qualquer um, ela ria o sorriso de canto de boca e dizia que isso era coisa da minha cabeça, que eu era doido...
_Não se perturbe vida, não vim te buscar, nem nada disso.
_Se não veio por mim, então?
_Ainda acha que o mundo gira a seu redor não é?
A vadia ria, sim ela ria descaradamente da minha cara, ela nem poderia estar ali, com aquele cheiro, com aquelas pernas, ainda mais bela do eu me lembrava ser, com os olhos ainda, mas fundos, e a minha maior vontade era deixar que eu fosse pro fundo deles, ela estava ali, Senhor ela estava ali!
Eu a comeria ali mesmo, na frente daquela gente toda, foda-se!
_ Você me comeria?
_Sabe que sim, sempre foi assim...
Gargalhava, pegou minha bebida tomou de um gole só, sentou-se de frente pra mim, de onde eu não havia me movido um centímetro sequer, ali sobre mim, me fez beber da sua boca, uma tragada do meu cigarro, começou sua dança infernal novamente, olhos ali parados no meu, uma serpente dos infernos, ressurgindo do passado pra me pegar...
Mas espere! Ela disse que não veio por mim, aí que está meus amigos, antes tivesse sido, conforme a dança ia esquentando, e ela ali grudada e eu paralisado, eu começava a ter espasmos, coisa que só por ela acontecia vestido dos infernos com as costas amostra, eu via aquele desenho das costas, linhas perfeitas, cintura amaldiçoada...
Realmente ela não tinha vindo por mim, não exatamente...
Saiu de cima de mim, caminho alguns centímetros, de meia volta...
Quem era aquele?
Como assim, quem era o tal sujeito? E digo a vocês ali naquele antro ele estava olhando tudo de longe e eu sequer havia me tocado disso, afinal ela nunca tinha estado só? Era uma personagem, assim como eu fui, ela também fingiu tudo, mas eu não havia fingido tudo, não tinha como ser pelo amor de Deus não poderia ser! Eu lembrava a perfeição da sua boca, pequena bem desenhada, boca de lábios fartos, fazia bico sempre, eu só tinha bebido da sua boca e agora ia pagar meu preço, eu fui sua vida, agora eu sou nada, eu a tive e poderia fazer o que bem quisesse agora ele...
Acordei com uma ressaca dos infernos, doía até a alma, busquei fotos, conversas salvas, quem me levou pra casa?
Mas eu saí de casa?
Precisava tomar um ar...
Dali de cima eu via a praça, crianças correndo, e...
Não pode mesmo ser verdade, vestido lilás, sentada na praça, como ela disse que iria ser...
Corri o quanto pude, eu mal havia lavado a cara, desci como um louco, penso que foi exatamente o que o porteiro pensou um louco...
Mas a praça era perto eu precisava ver de perto e dizer, dizer que não foi tudo papel, que tinha coisas as quais eu não poderia contar, mas que se havia uma chance de ser salvo eu queria ser salvo, mas que eu ficaria doente de verdade se a visse novamente daquela forma alguém a tocando...
As crianças estavam na praça, as crianças e no banco uma rosa vermelha, eu acho que realmente fiquei louco.
_A moça pequena deixou aí, e ela disse assim: Não há vida sem cores, as flores precisam de ar também.
Acabou tudo ali, sem vestígios, sem mais nada, nem dentro nem fora da tela fria, ainda pago o preço, se pude ser completo algum dia, deixei ir, nem vivo, nem morto, entro um e outro, nem humano nem fantasma, algo que só ela sabia o que era, agora sem ela, apenas lenda, contos que ela escreve personagem, sem personalidade...




Foi e não foi!


Os que cresceram em apartamento que me perdoem, nisso eu tive sorte, ser por uns tempos criança do interior foi uma bênção, acabei por me lembrar dos quintais da minha vida, tantos foram que me perdi em muitos deles, um dos quais me vem à mente neste exato momento é o da minha tia. Senhor o que era quilo?
Bendito quintal! É como se o visse hoje, mas daquela mesma maneira, gigante, tudo é gigante quando somos crianças, comigo não foi diferente, era imenso o quintal da casa da minha tia, ali eu tinha tudo, plantas, árvores imensas, bichos, estranhos bichos.
O quintal da tia era como um universo á parte, pra começar tinha um pé enorme de ciriguela, que carinhosamente eu chamava de cri, não o do mar, mas cri mesmo a fruta, bom eu nunca fui muito alta e por isso parecia que aquela árvore era ainda mais gigante, imagine vocês subir naquilo?
De lá de cima eu via toda a cidade (ao menos eu pensava que via e isso era o que importava) tinha um vento quente ali em cima, a torre da igreja era uma coisa mágica, eu me via como uma princesa, mais ou menos como Rapunzel, mas sem as tranças, o cabelo rebelde não fazia bem o estilo...
Ali tinha um chiqueiro de galinhas e quando elas não estavam por, lá virava uma casa sem maiores detalhes, mas o incrível mesmo era a pedra, bendita pedra no meio daquilo tudo, uma montanha oras!
Uma montanha na qual eu e minha prima escalávamos e pulávamos dali, como se ao chegar ao chão fossemos apenas afundar sem nos machucar, só afundar (algumas vezes usávamos o guarda-chuva pra isso), o pé de acerola era na verdade um pé de mini maçãs, RS...
No fundo dali um fogão a lenha, ah isso sim era o mundo perfeito! Fazer bolinhos de seja lá o que for brincar de guisado, correr atrás dos gatos em cima do muro, as borboletas eram mais coloridas, era uma verdadeira festa e no fim de tudo, no fim de tudo ainda tinha um baú, sabem lá vocês o que é um baú em um quintal?
Poucos de devem saber, abrir aquela caixa antiga era como algo proibido, um mundo do qual nós não fazíamos idéia do que encontrar, muitas revistas velhas, fotos antigas, livros, nem sabíamos ler direito, palha para o bom e velho brejeiro, mais conhecido como cigarro de palha, foi naquele mesmo quintal, ali mesmo que anos depois eu depilei junto com a mesma prima as nossas pernas, RS...
Senhor queria saber como não nos cortamos por inteiras, mas ainda era o mesmo lugar?
Parecia menor e na verdade tinha sido reformado sim e mais a frente seria cada vez mais diferente, mas assim me lembro dos fins de tarde, em cima do pé de ciriguela, naquele batente minha mãe se sentou com minha tia tardes corridas, naquele mesmo batente eu mesma fumei anos mais tarde o bom e velho brejeiro, um pequeno quintal no final de tudo, ainda ali sentei no mesmo batente e fiz minhas unhas, quando no passado o vermelho ficava com as acerolas, (que eram na verdade maçãs. Será?), agora decorava as minhas mãos.
Sinto por aqueles que nunca tiveram os fundos de uma casa, sua ou de alguém, um segundo sequer, mas agradeço, pois o carrego no meu interior, você sai de lá, mas ele nunca se muda de você, ainda que sejam breves momentos de um tempo congelado, no fundo de um velho quintal onde ainda hoje se esconde um antigo baú, abençoados sejam os seus tesouros...



Foi bom e pra sempre será...


Algumas viagens que fazemos, faz com que nossas vidas nunca mais sejam as mesmas, não fazemos idéia do que iremos encontrar no meio do caminho, nem muito menos do que esperar das pessoas que iram dividir o mesmo espaço físico que nós. No entanto, uma certeza nós temos, viajar é único, sendo assim, pode-se esperar tudo, ou nada, acabo de chegar de um congresso nacional de história, o congresso aconteceu em Fortaleza, cidade de sol, gente bonita, e suja, diga-se de passagem, mas e daí? O interessante mesmo é o decorrer da coisa, pessoas de todo o Brasil estavam por lá, pessoas bonitas, feias, simpáticas e algumas doidas como eu e quando digo doida, digo literalmente, embora pra ser sincera nenhuma tãooo doida assim.
Vou te confessar uma coisa curioso leitor, viver uma vida inteira em sete dias, não é pra qualquer um, tivemos momentos impares, momentos muito bons e momentos muito ruins, mas eu confesso que essa parte eu deixo na minha caixa de coisas estranhas, quero dizer do quanto sinto saudade dessas pessoas diversas, das conversas bobas, da correria pra ir tomar banho em um banheiro sem tranca e que dava de frente pro banheiro dos meninos (auhuahauhu).
Povo passando a madruga inteira acordada, galera com ódiooooooo eterno daqueles que não os deixavam dormir, gente do violão, Francisco meu filho você manda muito bemmmmm!
E quando no meio dessa galera você dá de cara com pessoas que sequer fazia noção de existir no tempo espaço, mas que casam direitinho com teu jeito de ser?
Uai! Nesse caso é partir pro abraço e viver o que há de bom, assim foi com a Aline, Daiane, Pâmela a Ariane e o Thiago, caramba! Como pode a gente se perder tanto no meio deste mundo de pessoas que em apenas alguns dias fazem da tua vida aquela graça de ser?
Mais tarde um menino inteligente e com cara de assustado aparece pra dar mais sabor á essa reunião de pessoas atemporais, Leopoldo, o Leo é uma coisa de fofis! Essa vai pra você Leo, “Nunca vi niguémmmmmmm viver tão felizzzz como euuu no sertãoooooooo...eh tchê tchê tchê tchêeee !!!
Um dia demos de cara com um pôr do sol que poucos podem ter na praia de Iracema, acho que cada um de vocês que lêem esse texto escrito de forma descompromissada, deveriam uma vez que fosse, em suas vidas, dar de cara com um pôr do sol deste, andar por sobre uma ponte que adentra o mar, a Lu ficou de cara com isso, a ponte velha chamada de ponte metálica, é uma coisa que fica acima das expectativas, tudo bem que alguns vão dizer que estou exagerando, eu só digo uma coisa, dane-se! Á mim não importa, eu sei que, ali naquela ponte, vendo aqueles barcos passar o cabelo sendo bagunçadas pelo vento, as ondas que quebravam com os prédios de fundo fazendo um perfeito cartão postal, eu vi que nesse mundinho de meu Deus, nada é nada, e nós somos ainda mais nada que isso se acha importante não é pessoa? Sinto informar, mas não é infelizmente eu fiz um vídeo que por alguma armação do destino foi apagado da máquina, esse vídeo era pra você bebê, não tem problema Doug, te faço outro de outro lugar, de outro tempo, mas olha palavra de Jakelina, então como eu dizia, no meio do caminho tinha uma ponte, tinha uma ponte no meio do caminho, conhecemos o Dragão do mar, coisa mais imensa é aquilo, havia mil coisas ali, o lugar ia subindo até você poder ver toda Fortaleza do alto, entramos em uma exposição que ganhava o nome de Brincadeira, e realmente era, casinhas com bonecos, luzes de lampião e areia, fez com que eu me sentisse bem de verdade, coisa que há milênios não ocorria, me senti fora de todo o resto e meu espírito em paz novamente poderia brincar, depois na mesma exposição, na mesma brincadeira, só que agora me levava ao mar, lá havia cata ventos, aviões que eram como móbiles, mas que funcionavam á manivela, meu pai do céuuuuu, havia uma bacia com água de sabão e os objetos pra fazer bolha de sabão, eu quase tive um troço, deve ser mais ou menos assim, lembra quando você era criança? Daí teus pais chegam e te trazem um brinquedo sem que você estivesse esperando? Foi bom como se assim o fosse, fiz bolhas de sabão, no fundo ouvíamos o som de crianças brincado á beira mar, o som das ondas misturado com minha alegria de estar ali e pisando na areia daquele lugar, não sei dizer, vou usar as palavras da Daiane “foi surreal”.
E o tempo todo, essas pessoas queridas estavam lá e o tempo todo eu ia de um extremo á outro, me senti feliz algumas vezes, e infeliz tantas outras, eu tenho sim este dom ou maldição de ir de um ao outro em questão de segundos, bom no meio desse turbilhão de emoções eu decidi fazer uma ligação e sabe você o que é ouvir alguém tão feliz em ouvir sua voz do outro lado? Recomendo também que procure saber se não souber. Acho, tenho mesmo pra mim, que nunca mais um congresso vai marcar de tal forma, claro dã!As coisas são únicas, eu somente afirmo, sentirei que o tempo foi aplacador nessa última semana, que fui uma, voltei outra, que sinto saudade dos momentos, que ri feito uma doida, eu a Maria e o Tássio durante a madrugada só falando bobeira, que sim Daí você é fiel ao seu namorido, afinal com tanto homem bonito junto e alguns até te rondando e você firme e forte.
Que tinha uma turma de paulistas surperrrrr na deles, um povo de Goiás muito engraçado que uma das meninas tomou um porre tão feio que saiu vomitando a quadra toda( foi de lascar), que um dos menino, do Piauí era o santo protetor das bebinhas, toda vez que uma mina caia nessa ele estava lá, sabe-se lá o porque, coisas da vida nean?
Que alguém perdeu uma aliança no banheiro, que alguém perdeu uma carteira com documentos e tudo (um dos paulistas), que alguém de Fortaleza não apareceu (pelo menos até enquanto eu estava lá) pra se despedir de alguém de Sampa e que alguém de Sampa tava doido pra falar com alguém do rio, que alguém de Floripa nos assustou, que outro do cearense tal poliça, ortoridade, fez um bem danado á uma menina chamada Maria. Que uma garota de Assú ta feliz da vida, causa de que um v menino vindo não sei de onde, gamou tanto nela que mandou um recado querendo seu MSN, trocamos MSN, trocamos presentes, mas presente mesmo vai ficar o sentimento de sonho, que agora de volta a vida real as coisas parecem um tanto longínquas, como se eu não conseguisse alcançar o pedaço de céu em limite com o mundo inferior, tudo isso em poucos dias, tudo isso entre risos e lágrimas, tudo isso perdido nos olhos de uma carinha que conhecemos, não poderia deixar de lembrar ele, ali perdido na praia de Iracema, vendendo suas coisinhas um nômade, que no fim das contas entrou pro clube do Coração partido do Sargento Pimenta, este foi o mini curso que fizemos (RS...), mas que já estava partindo também pra outro lugar, eu nem sei como findar o texto é que nesse momento alguns ainda estão voltando pra casa, levando uma bagagem de saudade, umas ou outras experiências sem igual, outros lavando os olhos marejados, afinal partir mesmo quando se quer dói de alguma forma, quantas dessas pessoas vamos reencontrar? Quantos momentos semelhantes á esses vamos viver?Quantos outros por do sol? Uma das meninas me disse que estava deprimida por conta da ida, que tinha se passado tudo muito rápido e que parecia, só parecia que era pra ser assim, como se essa parada toda tivesse sido escrita á tempos atrás, então eu vou findar o texto repetindo o que eu disse pra ela...
Se não houvesse começo e muito menos fim, não haveria história. Por um acaso somos historiadores, por um acaso estudamos o passado, pra que mais lá na frente possamos entender o presente, seja ele nosso ou de outros, fizemos nossa história ali, entre prantos e risos, raivas e alegrias, entre gente estranha, mas gente como qualquer outra, ultrapassamos fronteiras, estados, geograficamente ou fisicamente falando, eu mesma não arrisco um palpite pra responder nenhuma das questões e me utilizo do que mal sei sobre filosofia pra dizer, estamos aqui pra confundir, não pra explicar, faça a sua história e deixe o tempo se encarregar daquilo que ele bem sabe fazer, tenha sua caixinha de momentos impares também, a cada segundo que se vai você se pergunta, estive mesmo aqui? Se fez valer á pena, viveu, se viveu esteve...
Sinto por aqueles que eu não conheci, sinto pelos que não consegui me despedir, mas de todos vocês...
Sinto saudades...
“Passarinho quer dançar o rabicho balançar, pois acaba de nascerrrrrrrr thu thu thu!... é dia de festaaaaaaaaa dança sem pararrrrrrrrrr...!!! “

Ob: Anaaaa foi show te conhecer *_* ...

sábado, 18 de abril de 2009


Ei! Que dia é hoje mesmo? Ai Jakelina Anta, tem no PC, minuto aí gente...

Ahhh gente! Hoje é dia 18 de abril de 2009, então estou afirmando oficialmente que meu novo ano começa agora. EEEEEEEEEEEE! Pow! Pow! Pow... (Fogos).

Bom, vamos lá, saldo do ano passado?
Um coração que já não bate como antes, mas também não apanha, é, me deixa ver!
Um ex-amor, menos um período na faculdade, amigos? Este ano ganhei a Karina, a menina mais calma que conheci no mundo, antes achava que minha tia era a mais calma do mundo, Karina e sua otite, o mundo cai e ela nem aí.
Hum! Que mais? Simmmm! Temos uma nova integrante na casa, seu nome é... Deixa o nome pra lá, legal mesmo é o apelido, Sesê, minha amiga faz vidas, mas agora não sei que pecado ela está pagando e veio morar conosco, tadinha, não sabe o que vem pela frente.
Não posso esquecer de que este ano ganhei o meu primeiro papel oficial no teatro (não é higiênico ¬¬), Comédia dos Erros de Shakespeare, dois na verdade um maior e outro menor na mesma peça e, diga-se de passagem, também canto, danço e sirvo café na peça (ok o café foi só pra complementar), se tudo correr como previsto e sim, eu espero do fundo do meu coraçãozinho florido que corra, rodaremos o Brasil com ela, quem sabe até o mundo não?
Estamos ainda pendurados por falta de patrocínio, mas isso é só um detalhe, temos talento e isso não se compra certo? (mais ou menos, no Brasil nada se cria ou se inventa tudo tem propina ou caixa dois).
Bom qual o motivo de somente agora eu estar comemorando meu novo ano, ora se os Judeus podem, eu também posso!
Explicações contraditórias: O bem na verdade eu insisto que tudo têm um universo paralelo, o meu ano começa agora, simples fato esse confirmado por eu sequer saber a data de hoje, sim eu andei de certa forma perdida, mentira, perdida não, desencontrada, acreditava terminantemente que entregar minha vida pra ser cuidada e querida por outra pessoa, seria uma benção. O fato é que, nada funciona como pensamos, digo isso por experiência própria, se fosse eu teria mais de 1,55 de altura e com certeza, muito mais dinheiro, culpa de ninguém, culpa dos dois, e eu sinceramente não busco mais motivos para se, ou para talvez, meu ano começa quando consigo dizer adeus ao passado, quando ouvir uma música e rever coisas lá de trás que não me doem mais, meu ano começa quando eu verdadeiramente acredito que tudo que mais quero vou ter, ainda que seja coisa de Alice, meu ano começa quando eu simplesmente consigo andar na rua e rir pro nada, leve novamente, livre novamente, digo outra vez que isto não é uma discussão sobre quem ou o que me deixou mórbida por meses, ao contrário, é uma declaração de amor próprio, onde eu continuo sem saber quem sou, mas tenho noção plena de tudo que não me cabe e de tudo que não quero pra mim, respirar novamente ar impuro, é bem verdade que estou em reabilitação, mas sentir os primeiros passos novamente, cores antigas que tomam brilho novo, gente que passa por mim e nem faz idéia de que além de vê-las, as enxergo, sabe quando você compra um pote de sorvete e toma sozinho? Escondido de todo mundo você ri por dentro depois que os outros chegam e eles sequer fazem idéia do que você ri, eu precisava de mim, e andava com muita saudade desta guria que vos escreve, levei um fora imenso da vida, pra me dar conta de que mais triste do que não ter ninguém, é não possuir á si mesmo (nem estou falando de narcisismo, embora eu me ame ).
Muito certo sim senhor que terei dias cinza e outros azuis, mas e?
E nada, eu tenho o que todo mundo tem, e tenho também um monte de coisas que quero ter, e tenho comigo a noção de ser insana o quanto puder, sou constante na minha inconstância, repleta de uma doce loucura abençoada pela sanidade de ser doida. Embora a “marola” do Lula tenha virado uma onda gigantesca, eu sobrevivi!
Embora eu ainda esteja sem o meu precioso PC, to viva, embora eu esteja sem namorado, enfim. Vocês vão dizer, “mas que merda”.
É também acho, mas pensem bem, (voltando á ser Alice), estar viva é motivo pra comemorar, e quando digo viva, não falo apenas respirando, dia primeiro de janeiro de 2009 quase as 22h00min, dei entrada no posto de emergência, paralisada dos pés a cabeça, não no sentido figurado, como é que falou mesmo o médico?
Oh! Sim, tive uma conversão (não eu não virei evangélica), eu fiquei parecendo, fiquei um mistura de maracujá com ostra, ta complicado imaginar? Ok, vou tentar um exemplo mais fácil de compreender, (pensando... tem algo fedendo...)

Ahhhhhhh, ok!

Uma mistura de Dercy Gonçalvez com um dos zumbis do filme mortos vivos. Melhorou?
O médico, um Colombiano mutiiiiii doido, me disse que eu estava naquele estado, sem falar, sem me mexer dos pés a cabeça, com a boca contorcida pra dentro, e tomando oxigênio, pelo simples fato de dar muita trela ao que não me faz bem, disse-me também que deveria me livrar de tudo isso, poderia ser que da próxima eu tivesse realmente um derrame. Porra um derrame com menos de trinta? Imagino eu, gata, simpática, inteligente e humilde, parecendo o seu Lázaro, (papel do Lima Duarte, no qual o mesmo tinha um derrame, alguém lembra o nome da novela? Irrelevante isto agora volte ao que importa, eu, claro!).
Pois bem, tenho uns dois exames pra fazer ainda, nem sei quando e se quero fazer, isso eu decido depois quando bem entender, o fato é que se algo te leva ao limite da saúde, te trás mais dor que prazer (se bem que sou um tanto sado masoquista, se é que me entendem...), cai fora! É isso aí, procura fazer outras coisas mais saudáveis, beber, fumar, jogar papel higiênico molhado na casa recém pintada do vizinho, coisas do tipo, mas deixa como puder, e aí sim, o ano começa pra valer...
No posto de emergência o tal médico doido enquanto examinava os pacientes, falava em alemão com minha amiga e ainda de quebra me ensinava uns mantras, eu sei, mas isso não é ficção, o cara se muito não me engano, era maçon., digo pelo anel que vi em seu dedo, mas confesso médico espiritualista? De lascar não é?

Fora o aumento no imposto do cigarro (morte ao presidente e as pessoas com mania de vida “saudável), se eu quero pagar pelo meu câncer, dane-se, mas caralho! Os preços ficaram exorbitantes, sendo assim eu volto á fumar boró, pra que não sabe é o famoso brejeiro, pena que não tenho palha o.O!
Fazer o que? Pode ser que eu me dirija ao mercado negro, ao azul, ao rosa, tanto faz...
Assim sendo deixo aqui minhas singelas considerações finais (muiiiito fresco isso, mas sempre quis usar coisa do tipo em algo que eu mesma tivesse escrito), termino com uma frase célebre que minha mãe costumava usar: Quem muito se abaixa, o fundo aparece. Mal sabia ela que mesmo sem se abaixar com as calças jeans que usamos ta tudo de fora mesmo.
Uma vez fora da casca o pinto olha e pensa: O que estou fazendo aqui? Mais tarde quando maior e vendo todo o galinheiro só pra ele, então entende, eu não boto os ovos, mas nem por isso deixo de comer as galinhas.
É bom estar viva novamente...

Esperaaaaaa! Antes eu esqueça, segue a lista com considerações especificas sobre as meninas que moram comigo.

Karina: a pessoa que o mundo pode cair e ela sequer ouve, falo literalmente ela teve otite da brava decorrente de uma rinite e ficou com 50% da audição prejudicada.
Semária: Tadinha! Não teve infância, a coisa mais perigosa que ela fez na vida foi tomar banho de chuva, a mãe dela dizia que era um perigo menina, mas ela rebelde como é, decidiu contrariá-la aos 26 anos de idade
Teka: Não sei mais ela costuma dizer que é o equilíbrio da casa, mas sempre me lembro dela quando penso em milho, além do que ela cria uma galinha no freezer, a bichinha procriou no congelador e agora está com a gripe do frango, penso até que ela vai ter um caso com os hambúrgueres do congelador =O.
Eu? Eu sou você amenhã. Muhauhauhauhauha (risada from hell).

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ainda está aqui?


Eu tenho ouvido tanta coisa e tenho olhado tanto da janela que por vezes nem lembro que estou aqui, e você está aqui?
Seria tão mais fácil não lembrar, descarregar as baterias, fingir não crer e te guardar numa caixa atemporal, dia desses, eu perdi meus cristais, derrapei em cima deles e me cortei, sabe o mais estranho de se cortar? No primeiro momento você não se dá conta até ver que sangrou estranho é saber que o corte vai fechar, mas mesmo assim, tenho sensação que tudo vai saindo aos poucos, eu ando em um clipe, tudo vago e lento.
Fiz compras semana passada, nada fora do comum, mas o cara da TV disse que tudo vai subir a temperatura os preços e você, ainda está aqui?
Lembra da vizinha chata? Pois é ela também se foi e nem sei por onde anda e você, ainda está aqui?
Cortei o cabelo novamente, talvez quando você voltar eles esteja comprido novamente, assim faço deles o tempo do relógio pra te esperar, pensei em me mudar, mas desisti, e você ainda está aqui?
Quase ia esquecendo dia desses eu vi bem te vis, todos soltos por aí, estavam um tanto cabisbaixos, afinal eles não sabem que você ainda está aqui, vou te mandar uma camiseta do último lugar em que eu estive, vai estar escrito assim, passei por você e lembrei de mim, acho que prefere azul, mas se cair tinta e misturar tudo com rosa vai ficar lilás, não tem problema ainda sim, você vai estar aqui. Ando enjoada de me olhar no espelho, quase trinta e por mais que eu corte o cabelo, o tempo não volta, não mesmo. Quase te convido pra jantar comigo, mas tive medo de você não estar aqui, então pus à mesa, copos, aqueles que quebraram, eu fiz tudo como tinha de serem, velas que pouco iluminava cores intimistas, deixei tudo pronto, sentada ali me dei conta de que você nunca se foi, que toda aquela conversa de desapego e livre amor, pura demagogia, mas me responde, porque você ainda está aqui?
Algumas amigas me ligaram, elas disseram que eu tenho de me desprender, agora veja bem como as coisas se dão de forma estranha, eu pintei o rosto e fui interpretar outra eu, mas ao por o pé na rua, eu senti que não sai daqui, e você ainda está aqui?
Bom, fico por aqui pra variar, não estou indo assim, como não vim naturalmente as novidades são poucas e disso tudo está cansado de saber, afinal, fatidicamente ou não, você ainda está aqui. Arruma um espaço pra mim no seu quarto, abre logo a janela e veja o balançar da cortina, estou chegando, por todo tempo que foi incerto e todo o tal medo que te consome, vou com você á padaria, afinal quem vai dizer floresta negra por você?
Eles riram de nós, mas eu não me importo, no caminho tu me rouba uma flor, do jardim daquela senhora que tem dois gatos, um bonzinho e outro malzinho, e nem me venha com desculpas de que ela te pegou no flagra, afinal você ainda está aqui não é?
Faça-me promessas e cumpra com aquilo que não disse em uma dessas madrugadas me liga, ainda que seja pra dizer que não vai me ligar, risca da tua agenda o dia em que não dormiu e os pesadelos foram mais fortes que eu e você, se chover pega uma peça de roupa minha, se cobre moço, deixa o meu cheiro te tomar, sendo assim, você ainda estará aqui, não saia sem agasalho o tempo não perdoa, não beba durante a semana e chore sempre que puder, quando parar de frente pro relógio lá na avenida, por favor deixe que os minutos escorram lentamente. Não quebre mais nada, não quero ir ao banco junto de ti e ficar preza na porta, leia coisas novas e não me recomende, prefiro que as explique pra mim, não devolva tudo que pegou emprestado, leia atentamente aquilo que não te escrevi, diga logo o que pensa, mas não de maneira inteligível, é sempre bom não ser óbvio, não aconselhe ninguém á nada, mas também não seja antipático, negue esmola se lhe faltarem com o troco, se possível escreva um bilhete sem endereço deixe na caixa do correio dizendo assim: Aquém interessar e mesmo que não interessem, por favor, respostar.
Depois de ler tudo isso queime, ponha em um envelope e mande-me de volta, pois por assim dizer, você ainda está aqui. Você me fez lembrar que o mundo é redondo, mas as pessoas são quadradas...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Tu fala, ele fala, ela fala, nós falamos...


Ele fingiu que falava, ela fingiu que entendia, mais cedo ou mais tarde, tudo iria ruir, tal como uma tempestade, a qual não se poder prever se vem e se vier, vai ser rápida, ela varou madrugadas á dentro sempre se perguntado, quanto pagaria por seu sonho, quanto tempo ainda pra viver morrendo, quantas vidas ainda pra morrer?
Só mais um dia, ainda um dia á mais, em um instante o mudo para, no outro o vidro molhado da janela a faz lembrar do relógio na avenida, na qual ele passa todos os dias, aquele relógio que marca o pensar, seria interessante um suco em uma lanchonete, um café no barzinho da esquina, um telefonema, uma flor, nem uma coisa nem outra, apenas isso sem aquilo, apenas outras mais, uma entre tantas, as perguntas mais idiotas, as reposta mais insustentáveis, então por qual motivo crer?
Ele diz eu te amo, ela diz dorme bem, distantes, não há distância, há apenas uma parede chamada medo..

_ Eu te...você sabe!
_ Eu sei, mas gostaria de ter certeza, como eu gostaria de que fosse ainda mais que essas palavras, dizer eu te amo dói, ouvir de você, massacra...
_ Faltam alguns minutos para o fim do meu mundo.