quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cartas de retalhos, runas de tarôt...


A rosa que ela trazia no cabelo tinha a cor de sua alma lambida pelas línguas afiadas das adagas distintas do destino vermelho como o fogo, a dança não ensaiada, o xale já antigo as rugas próximas aos olhos, o brilho opaco deles não deixavam negar suas dores, a dor de uma vida morta há alguns anos.

A fogueira foi acesa e ela sem pensar no próximo passo adentrou a roda, girou como uma carrapeta, a ampulheta do ir já se dissipara, assim com o sol que havia se posto em retorno do rumo sem fim, dali por diante era ela a deusa, era ela o respeito temido entre o seu povo, porque até mesmo ali ela assustada, era a bruxa do vento como a chamavam, era o entrelaçar de falar que trazia a tona sentimentos alheios não quistos e muito menos se tinha desejo de que fossem expostos por aqueles que os sentiam, os pés descalços trazia caminhos já não existentes, mais palmas, mais giros, a música entrara num ritmo frenético, indecente, insolente eram seus passos, então como não poderia ser diferente ela o chamou, ali no meio do circulo, diante da fogueira de madeira antiga, chamou seu mensageiro para que ele lhe pudesse conceder um ultimo desejo, o desejo de ser ela uma ultima vez.

O homem de aspecto jovem, ou seja, lá o que ele fosse sua energia facilmente trespassava a alma alheia, sentou-se diante da fogueira do lado oposto ao dela, nada dizia, pois as perguntas já tinham sido feitas há séculos atrás e ele nem sentia mais a necessidade de respondê-las, uma vez que ela perfeitamente capaz de percebê-las o cheiro de lavanda queimada varava as narinas e penetrava a roda, enquanto as palmas continuavam eles apenas se encaravam, era como olhar em um espelho e nem sempre ver-se diante de um era de algum modo satisfatório.

_Então é somente isso?

_ Não deveria estar se perguntando, assim a resposta será dada como errada, mas será exata diante daquilo que questionou.

_ Sei exatamente o que quero, sabe exatamente o que quer?

_Aquilo que você quer é somente o que desejo ter.

_Eu pertenço a tudo aquilo que não possuo.

Desse momento em diante a primeira rajada de vendo levantou a areia do deserto, caso não fosse tão visível poderia até se pensar que se trataria de presságios os arrepios sentidos naquela roda e muito embora o fogo lapidasse a todos e torna-se um pouco menos fria a noite, houve realmente rebuliços de incomodo aparente.

_É isso mesmo?

_É exatamente isso.

_Pois lhe será concedido, muito embora...

_Seu querer, meu bem querer.

.

_Mais música! Mais vinho! Mais dor!

A roda agora era única e as cores misturadas às cores que o fogo tinha tomado era pouco distinguível a quem a via de longe, areia tomava o circulo, a lua acabara de sair por entre as nuvens, o cheiro poderia ser sentido a longa distância, quiçá na cidade vizinha...

Naquela noite crianças acordaram no meio da noite implorando para dormir com seus pais, velhos tossiam até cuspir sangue, mulheres que amamentavam secaram seu leite, barulho o vento falava e implorava algo, mas somente os sonhos poderiam dizer o que, os homens acostumados a se sentirem seguros voltaram a ser meninos desmamados recentemente, tremiam e rezavam suas antigas orações.

O vento agora já não era tão brisa, estava chegando ao ponto de torna-se um redemoinho que ia crescendo cada vez mais e tomando tudo ao seu redor, voavam pratos de ágata e copos de madeira, com isso aqueles que dançavam em torno da fogueira saíram como um rebanho que perde seu pastor.

_Vai ser assim?

_Assim será?

Então veio o furacão e o acampamento foi pelos ares, a lua ficou escura totalmente e sequer havia nuvens no céu, começava a chover, ela juntos a chuva começava a desmanchar a bruxa do ar, aquela que desejou profundamente voltar ao seu lar, sendo ela o próprio vento podendo acalentar suas dores ao invés de dores alheias, ela que tinha visto o começo de tudo e o fim do nada, ela que trazia restos de estrelas e planetas mortos, pedira somente que fosse vento e voltando a torna-se ele tomou o fôlego do começo, o recomeço...

“Soprando-lhe nas narinas um sopro de vida, momento no qual o homem se tornou um ser vivente (v. 7).”

_Mas então, porque me sinto rastejar?

_Não se nega à natureza, não é mesmo pelos pés que se começa a andar?

_Demônio!

_ Saberás como dói ser um de agora em diante... .Tudo sobre o bem e o mal rs...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Reentrâncias


Todas as tardes ele trazia consigo um punhado de farelos e os jogava descompromissadamente naquela velha praça e todas as tardes as mesmas crianças perguntavam? “Quanto tempo tem você?”

Ele sequer sabia, sabia que tinha muito que passara, mas nada lhe constava sobre o quanto ainda restava, passava dias assim olhando pela vereda do destino o que as pessoas deixavam no meio do caminho.

A moça que perdia o olhar quando o homem apressado com a pasta marrom que ia em sua direção, mas apenas passava, ele deixava no ar um cheiro de tinta de escritório, ela de memórias mal guardadas, mofo e solidão, mas todas as tardes ia de encontro a ele, nos poucos segundos em que conseguiu mirar seu rosto ela pensava “Ele vai ser perder ainda, vai deixar a pasta cair então...”

Então o velho pensava... ”Mais tempo que se foi todo o tempo...”.

A senhora que usava um vestido arroxeado ligava apressadamente para a babá, lembrando para não esquecer a hora dos remédios do filho, esse filho que ela tinha tentando abortar e por isso nascera coma autismo, pensava... ”Será que ainda me espera?” O amante.

Era o tempo todo de girassóis, mas girassóis não possuem perfume e, no entanto a praça era perfumada por algo que lhes trazia a memória uma década atrás, onde os mais moços deitavam seus litros de bebidas e cantavam coisas constantes.

A tosse dele piorava... Tempo, tempo, tempo. Quanto tempo?

Em questão de segundos (caso se possa contar o tempo) Um ônibus freou bruscamente, a moça com cheiro de mofo estava estatelada no chão, onde a multidão fazia fila para visar o acontecimento. No mesmo instante a dona do vestido arroxeado chegava ao quarto de motel...

_ Você não fica bem de roxo!

_ E essa sua pasta está velha demais...

Tempo velho demais.