domingo, 28 de agosto de 2011

Pragmatismo versos Praga...


Tinha um tempo em que não parava em casa, um tempo em que deixava o tempo sem correr, parada assim olhando a cidade da sacada da janela ela podia ver os pensamentos nas frestas da janela, pensava que depois de alguns anos naquela cidade, mais cedo ou mais tarde tudo faria sentido, mas o único sentido que encontrava era mirar o pensamento alheio, na casa da frente morava uma senhora idosa, dali ela via seus pensares, a mesma coisa todo santo dia “preciso comprar meus remédios” e se perguntava se também ficaria assim, a vizinha da frente pensava sempre que o marido descobriria sua traição, o vizinho que estuda música pensa no sucesso, mas nem entendeu ainda que não vai viver para ver isso acontecer, ele tem câncer...
Gostava dos pensamentos da menininha da rua de trás, ela pensava colorido, bolhas de sabão e elefantes cor de rosa...
Não era um trabalho fácil cuidar do pensamento alheio, mas também ninguém disse que seria, dali algumas horas iria pegar o avião, e aquelas pessoas sequer imaginariam que estavam alimentando uma estranha... Será que ainda tenho cigarros?
Acendeu um, mais pela fadiga das horas que pelo vício, as voltas que a fumaça fazia a fazia relembrar de que já não possuía pensamentos seus, a TV ligada dava uma idéia do mundo lá fora, furacões, fome, corrupção, depois de tantos séculos nada havia mudado e ela estava realmente cansada, talvez ligar o rádio e deixar correr qualquer música, talvez o cheiro de café a animasse. Por fim começava a chover. “Quantas vezes o homem ainda conseguirá ver esta cena?”. Era este um pensamento seu?
Tanto faz tudo já foi pensando, quando foi chamada para receber seu dom e tomar seu rumo enquanto missão, ela ficou pensativa... “gostaria mesmo era de lembrar o que pensei”.
Hora de ir...
Posso deixar o rádio ligado e a TV fazendo barulho, ninguém irá notar, estão todos muito preocupados com seus supostos pensamentos... A chuva era somente mais um aviso, até quando?