sábado, 19 de março de 2011

Ausência de mim...


Interpretando a si mesma no intuito de não saber quem é. De qualquer forma se conhecer até ali não tinha sido um bom negócio, fez trocas estranhas até então, deu-se por perdida algumas vezes, noutras encontrava-se, apenas isso...
Muito embora o apartamento fosse pequeno era esse seu mundo, era dali que tinha toda a visão da cidade, era uma cidade de estranhos, era uma estranha entre tantas cidades, já havia percorrido o mesmo corredor inúmeras vezes e os andares eram os mesmos, no apartamento de cima o mesmo vizinho ouvia a nona de Beethoven, ao lado a mesma vizinha estava só, em frente o adolescente deveria estar se cortando, como saber tanto dos outros e muito pouco de si? Escolhas, escolhas essas que a levara até determinado momento, seria o mais rápido possível, sem acordes nem textos longos, deixaria alguma coisa na geladeira, mas nada muito elaborado, ele chegaria dali alguns minutos, o batom estava de acordo com todo o resto... O bilhete...
Nada elaborado?
“Por assim dizer fui, sendo que te deixo o que de melhor eu tenho a te dar, minha ausência”.
Feito, olhou-se uma vez mais no espelho, notou que havia um novo sinal em seu rosto “Estranho!”.
Era outono e o vento fazia um barulho estranho, mensagens que naquele momento não conseguiria entender, pensou na toalha suja, riu do pensamento, fechou a janela, arrumou novamente o cabelo, sentou-se um pouco mais e resolveu tomar uma dose de qualquer coisa...
Passos...
Porta se abrindo...
_ Olá querida!
Calada...
Olhou para o bilhete em sua mão... Olhou para ele uma eternidade...
_Oi...
Amassou o bilhete, colocou o avental e foi até a cozinha.
_ O que temos para o jantar hoje?
_Ah! Nada muito elaborado...

Um comentário:

Anônimo disse...

Recomponho-me lendo... O mundo é um texto, e o seu traço, as entrelinhas de uma aquário dentro de mim.

Grata, Aline.