domingo, 9 de agosto de 2009

Foi e não foi!


Os que cresceram em apartamento que me perdoem, nisso eu tive sorte, ser por uns tempos criança do interior foi uma bênção, acabei por me lembrar dos quintais da minha vida, tantos foram que me perdi em muitos deles, um dos quais me vem à mente neste exato momento é o da minha tia. Senhor o que era quilo?
Bendito quintal! É como se o visse hoje, mas daquela mesma maneira, gigante, tudo é gigante quando somos crianças, comigo não foi diferente, era imenso o quintal da casa da minha tia, ali eu tinha tudo, plantas, árvores imensas, bichos, estranhos bichos.
O quintal da tia era como um universo á parte, pra começar tinha um pé enorme de ciriguela, que carinhosamente eu chamava de cri, não o do mar, mas cri mesmo a fruta, bom eu nunca fui muito alta e por isso parecia que aquela árvore era ainda mais gigante, imagine vocês subir naquilo?
De lá de cima eu via toda a cidade (ao menos eu pensava que via e isso era o que importava) tinha um vento quente ali em cima, a torre da igreja era uma coisa mágica, eu me via como uma princesa, mais ou menos como Rapunzel, mas sem as tranças, o cabelo rebelde não fazia bem o estilo...
Ali tinha um chiqueiro de galinhas e quando elas não estavam por, lá virava uma casa sem maiores detalhes, mas o incrível mesmo era a pedra, bendita pedra no meio daquilo tudo, uma montanha oras!
Uma montanha na qual eu e minha prima escalávamos e pulávamos dali, como se ao chegar ao chão fossemos apenas afundar sem nos machucar, só afundar (algumas vezes usávamos o guarda-chuva pra isso), o pé de acerola era na verdade um pé de mini maçãs, RS...
No fundo dali um fogão a lenha, ah isso sim era o mundo perfeito! Fazer bolinhos de seja lá o que for brincar de guisado, correr atrás dos gatos em cima do muro, as borboletas eram mais coloridas, era uma verdadeira festa e no fim de tudo, no fim de tudo ainda tinha um baú, sabem lá vocês o que é um baú em um quintal?
Poucos de devem saber, abrir aquela caixa antiga era como algo proibido, um mundo do qual nós não fazíamos idéia do que encontrar, muitas revistas velhas, fotos antigas, livros, nem sabíamos ler direito, palha para o bom e velho brejeiro, mais conhecido como cigarro de palha, foi naquele mesmo quintal, ali mesmo que anos depois eu depilei junto com a mesma prima as nossas pernas, RS...
Senhor queria saber como não nos cortamos por inteiras, mas ainda era o mesmo lugar?
Parecia menor e na verdade tinha sido reformado sim e mais a frente seria cada vez mais diferente, mas assim me lembro dos fins de tarde, em cima do pé de ciriguela, naquele batente minha mãe se sentou com minha tia tardes corridas, naquele mesmo batente eu mesma fumei anos mais tarde o bom e velho brejeiro, um pequeno quintal no final de tudo, ainda ali sentei no mesmo batente e fiz minhas unhas, quando no passado o vermelho ficava com as acerolas, (que eram na verdade maçãs. Será?), agora decorava as minhas mãos.
Sinto por aqueles que nunca tiveram os fundos de uma casa, sua ou de alguém, um segundo sequer, mas agradeço, pois o carrego no meu interior, você sai de lá, mas ele nunca se muda de você, ainda que sejam breves momentos de um tempo congelado, no fundo de um velho quintal onde ainda hoje se esconde um antigo baú, abençoados sejam os seus tesouros...



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