domingo, 9 de agosto de 2009

Psicopatia!


Madrugada estranha essa...
Lembro-me da cena, como se estivesse acontecendo agora, um lugar desses que você vai pra ser você mesmo, ou pra deixar que seus personagens aflorem, foi sim, bem assim...
O som era um tanto hipnótico e ao mesmo tempo angustiante, a porta principal se abre, nada fora do comum, se não fosse pelo detalhe de além do frio entrar, junto com ele, o frio, ela, que ao mesmo tempo parecia o gelo em pessoa, fazia tudo ali dentro queimar, mais incomum ainda seria ela entrar no lugar com um cão do lado, mas permitiam animais ali? Além de nós que eu saiba não.
É mas ela entrou, junto com o cão, enorme, de olhos azuis quase transparentes, acho que daquela raça siberiana, mas nunca tinha visto um cão como aquele, é que seu pelo era luminoso, ou seria a luz do local e algumas doses extras que me fez pensar assim? Se for isso estávamos todos bêbados...
E que eu me lembre nunca a tinha visto naquele lugar, bom, de qualquer forma aquilo transpassava qualquer coisa que eu tenha visto mesmo, e foi assim, ela foi tomando o local pra si, no primeiro instante alguns poucos olhares se voltaram, a música baixou, mas quem baixou a música?
Que me lembre ela não era nada diferente do resto das mulheres, bom a não ser pelo fato de ser baixa, ali sempre tinha mulheres mais altas, que realmente chamavam atenção, mas vejam você, usava um vestido de pouco comprimento, que parecia ser costurado em seu corpo, acha que era de cor pele junto com branco, era meio que uma mistura de segunda pele e pele de urso? Bom era isso que parecia, uma toca sobre a cabeça e um cachecol no pescoço que pareciam vários pontos de neve caindo, que bordado estranho! Botas, botas até próximo do joelho, e seu rosto?
Bem o som voltou a subir, outra música ainda mais angustiante começava a tocar, uma mistura de tambores com vozes ao fundo, e foi assim...
Ela deixou o cão com o cara que tomava de contas das coisas das pessoas na casa, foi entrando como quem tem tudo e nada, não olhava diretamente pra ninguém ou lugar algum, eu bem na verdade se não fosse pela bebida e outras coisas, juraria que ela sequer tocava o chão, vinha como uma assombração, algo que surge do passado pra te atormentar, sem tirar o capuz, começou a andar por entre os outros na pista de dança, foi abrindo espaço sem fazer o mínimo de esforço, mas o que era aquilo meu Deus? E eu a chamei de aquilo, pois pra mim estava longe de ser algo real, ao que pude ir notando eu não seria o único, inferno na terra foi o que vi a partir dali, começou sua dança satânica, porque aquilo não poderia ser uma simples mulher dançando, o meio da pista se abriu, tinha um casaco! Como não pude notar? Era um casaco junto com o capuz, ela foi tirando quase sem se mover, nem precisava, é que ela parecia uma serpente, era a hora de ver seu rosto, luz infernal, como poderia ver seu rosto?
As pessoas cada vez mais uma por uma iam parando no meio da dança, ela tinha dominado tudo quanto era espaço aquela coisa magra, estranha, baixinha, agora sim! Cabelos curtos, espetados, como algumas fadas dos desenhos e histórias que no passado ouvíamos falar, desgraçadamente eu tinha ficado ali no bar, parado com aquele copo na mão, estupidamente parado, e nem sequer conseguia me mover, ela andava como uma onda que traga você pra morte, mas ao mesmo tempo você se delicia, ao saber que vai morrer de tal forma, aproximou-se e a maldita música não parava, fez um paço no qual quase ficava de joelhos aos meus pés, subiu se contorcendo como quem sofresse de dor profunda, quem disse que eu conseguia me mover?
Filha da puta! Então vi seus olhos, olhos que vi por meses, mas que, no entanto nunca havia tocado, caralho! Mas ela estava diferente, ela queimava, mas estava morta, não tinha como ser ela, como havia chegado até ali, como havia descoberto onde esse verme dito como homem vagava um antro chique e decadente, tudo ao mesmo tempo, numa cidade onde coisas equivocadas se misturavam com sujeiras provocadas, onde esse cara imundo sem se aproximar nunca dela tinha destruído sua mente, acabado com alguns poucos sonhos seus...
A menina nem tão menina assim, agora tinha todo o lugar pra si, as pessoas nem se aproximavam, os homens?
Gargalhem meus amigos, os homens simplesmente arregalavam os olhos sem saber o que estava acontecendo, a vadia os tinha na mão, a porcaria do seu corpo fazia isso, a música acelerou...
_Se liga cara é ela, se liga como ela chegou até aqui? E mais que porra que o tempo fez com ela, ela não envelheceu um dia, ta me ouvindo?
Eu sei que música era aquela, tudo que eu queria era cair fora daquele lugar, maldito pesadelo, mas não, não queria mesmo acordar!
Eu lembro daqueles olhos, de como os vi noites após noites, mas nunca os toquei, os vi chorar, outras vezes ouvi sua voz, chorava tanto de tristeza, como de dor e prazer, eu ouvi aquela mulher gozar no meu ouvido, não foi imaginação, estou sendo mais que verdadeiro, este não é meu forte, mas neste momento é tudo verdade, era do tipo que quando gozava chorava feito criança, e se dizia a minha vadia, estava ali, uma que um dia chamei de flor, agora mais me parecia erva daninha...
Mudou a música, uma que falava de lembrança, as pessoas meio que acordaram, nem se deram mais conta de que ela estava ali, ela vinha vindo, vagarosamente, chorosamente, em minha direção, meu amigo como que vendo o demônio a sua frente saiu sem dizer nada, e o que ele iria dizer? Afinal no meio desta palhaçada toda, ele também serviu de pano de fundo para as minhas tramóias, falsas doenças, idas ao exterior, mãe doente, empréstimos que eu nunca havia dado pra ajudar seu ninguém, eu era apenas um filho da puta, que me divertia tirando o juízo de garotas solitárias...
_É você de verdade, de verdade...
_Não, faz tempo que não sou eu de verdade.
_E quem é você agora? E como diabos você conseguiu chegar até aqui?
_Perguntas erradas, a pergunta certa é: O que eu vim fazer aqui?

Senhor eu amei aquela criatura verdadeiramente e por amá-la mesmo sendo um ser que nada valho eu amei, de uma forma suja, sórdida e ao mesmo tempo o tudo mais puro que tive na merdinha de vida que levo o preço mais alto, ela me tirou de si completamente, nunca me ensinou como retira-la de mim, eu tinha quem bem queria, da forma como queria, as transas mais loucas, sempre foi assim, a mulherada vinha como mel, mas aquele maldito corpo, os gemidos, sussurros, as risadas, a voz baixando quanto tinha vergonha, lágrimas, risos, uma grande peça, não pra menos, ela era atriz, agora eu era não muito mais que uma personagem de seus contos, a vadia ainda me chamava de vida... AHAHAHAHHA... Vida...
Os olhos, olhos famintos, os olhos de sempre, buscando algo que lhe tinha tirado há muitas vidas atrás, eu dizia que aqueles olhos dela poderiam levar a desgraça qualquer um, ela ria o sorriso de canto de boca e dizia que isso era coisa da minha cabeça, que eu era doido...
_Não se perturbe vida, não vim te buscar, nem nada disso.
_Se não veio por mim, então?
_Ainda acha que o mundo gira a seu redor não é?
A vadia ria, sim ela ria descaradamente da minha cara, ela nem poderia estar ali, com aquele cheiro, com aquelas pernas, ainda mais bela do eu me lembrava ser, com os olhos ainda, mas fundos, e a minha maior vontade era deixar que eu fosse pro fundo deles, ela estava ali, Senhor ela estava ali!
Eu a comeria ali mesmo, na frente daquela gente toda, foda-se!
_ Você me comeria?
_Sabe que sim, sempre foi assim...
Gargalhava, pegou minha bebida tomou de um gole só, sentou-se de frente pra mim, de onde eu não havia me movido um centímetro sequer, ali sobre mim, me fez beber da sua boca, uma tragada do meu cigarro, começou sua dança infernal novamente, olhos ali parados no meu, uma serpente dos infernos, ressurgindo do passado pra me pegar...
Mas espere! Ela disse que não veio por mim, aí que está meus amigos, antes tivesse sido, conforme a dança ia esquentando, e ela ali grudada e eu paralisado, eu começava a ter espasmos, coisa que só por ela acontecia vestido dos infernos com as costas amostra, eu via aquele desenho das costas, linhas perfeitas, cintura amaldiçoada...
Realmente ela não tinha vindo por mim, não exatamente...
Saiu de cima de mim, caminho alguns centímetros, de meia volta...
Quem era aquele?
Como assim, quem era o tal sujeito? E digo a vocês ali naquele antro ele estava olhando tudo de longe e eu sequer havia me tocado disso, afinal ela nunca tinha estado só? Era uma personagem, assim como eu fui, ela também fingiu tudo, mas eu não havia fingido tudo, não tinha como ser pelo amor de Deus não poderia ser! Eu lembrava a perfeição da sua boca, pequena bem desenhada, boca de lábios fartos, fazia bico sempre, eu só tinha bebido da sua boca e agora ia pagar meu preço, eu fui sua vida, agora eu sou nada, eu a tive e poderia fazer o que bem quisesse agora ele...
Acordei com uma ressaca dos infernos, doía até a alma, busquei fotos, conversas salvas, quem me levou pra casa?
Mas eu saí de casa?
Precisava tomar um ar...
Dali de cima eu via a praça, crianças correndo, e...
Não pode mesmo ser verdade, vestido lilás, sentada na praça, como ela disse que iria ser...
Corri o quanto pude, eu mal havia lavado a cara, desci como um louco, penso que foi exatamente o que o porteiro pensou um louco...
Mas a praça era perto eu precisava ver de perto e dizer, dizer que não foi tudo papel, que tinha coisas as quais eu não poderia contar, mas que se havia uma chance de ser salvo eu queria ser salvo, mas que eu ficaria doente de verdade se a visse novamente daquela forma alguém a tocando...
As crianças estavam na praça, as crianças e no banco uma rosa vermelha, eu acho que realmente fiquei louco.
_A moça pequena deixou aí, e ela disse assim: Não há vida sem cores, as flores precisam de ar também.
Acabou tudo ali, sem vestígios, sem mais nada, nem dentro nem fora da tela fria, ainda pago o preço, se pude ser completo algum dia, deixei ir, nem vivo, nem morto, entro um e outro, nem humano nem fantasma, algo que só ela sabia o que era, agora sem ela, apenas lenda, contos que ela escreve personagem, sem personalidade...




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