sábado, 31 de outubro de 2009

Inverno!


Julho. Faz frio, mas nesses meses, sempre faz frio...
Fez-me lembrar um dia, qualquer dia do passado em uma plataforma, não é um ano qualquer, não mesmo...
Nem qualquer lugar, Berlim, seria ali?
Dava pra ouvir os passos, usavam botas, mas se era em Berlim como eu poderia ouvir pássaros e ondas? O mar não poderia estar presente assim!
Além do que falavam em francês, acho engraçada essa língua, ouvi-la me dá fome, recordo bem nesse instante, dos olhos dela, branca como cera, olheiras roxas e olhos extremamente azuis, mas que o cinza ficava mergulhado, não se via reflexo neles, não se via nada, pra mim estava morta, detesto gente de olhos assim, são fantasmas, dos que ainda vivem, não, dos que sobrevivem, não estão vivos, eles ficam por ali analisando cada situação friamente o próximo passo, a próxima palavra, mas o olhar! O olhar sempre vazio...
Ouça estão se aproximando!
A mulher continua parada e eu ainda escuto o mar, na verdade posso até senti-lo agora, lambendo meus pés, que pés feios eu tenho! E pássaros? Mas o que eles fazem aqui?
Botas, casais começam a dançar, passos, a mulher ainda me observando, botas...
Não sei como fui parar naquela estação, mas eu prefiro o mar e os pássaros, por que não veio comigo? Preferiria mil vezes que fosse você ao invés desta pessoa de olhos tão grandes e vazios! Tem alguém cantando eu posso ouvir também, é doce o que canta e me dá sono, é quente aqui, mas pra que voltar pra estação?
Quando você partiu meados de inverno eu bem me lembro, você dizia “olha sempre se pode contar com um agasalho certo?” Lembra o que deixou pra mim em cima da cabeceira da cama? Claro que lembra, afinal foi a primeira e última vez que me deixou uma rosa, ao menos isso, daí nunca mais voltou agora ouço passos amor! Pra onde você foi mesmo? Acho que alguma coisa com seu trabalho e a falta de tempo blá blá blá o de sempre querido.
“Mas trarei presentes flor” Mas qual era mesmo o local?
Acho que deixei a janela aberta, e outra o chá está pronto, eu prefiro o de maçã verde, no dias frios me sento ao fim da tarde no jardim, ali ainda conservo algumas lembranças...
Ora veja! Ela também está ali, agora sua boca está tão vermelha como se tivesse sido mordida, um batom berrante eu diria, de mal gosto, ela sangra, Deus como é feia! Dá pra ver nitidamente os homens chegando, botas, Berlim, com certeza, lembro da estação, agora realmente faz frio de verdade eu nem consigo mais mexer os pés, onde foram parar as ondas?
Estou sem poder me mexer, caramba! Ta mais que frio, estou congelando, seria bom voltar pra casa agora, talvez eu possa começar pelos dedos, quem sabe! Nada mexe, olha os homens se aproximando, e a mulher cada vez mais perto, o trem, o trem, finalmente o trem vem vindo, uma fumaça tomando conta do local, porque o trem não chega antes dos homens e da mulher? Que porcaria...
Ela chegou primeiro, nem terminei meu chá, de perto é menos feia, mas só consigo enxergar as botas dos homens, onde estão seus rostos? Rosas? Centenas delas, eu só tinha uma, uma somente!
_ Do pó viemos e para ele voltaremos que nossa querida Alice esteja em um bom lugar, que Deus a mantenha em um bom lugar, amém!
_ Como eu poderia imaginar? As coisas foram tão rápidas eu mal tive tempo de pensar! Poderia saber que ela ia ao meu encontro?
_ Calma amigo, ninguém o está culpando aqui!
_ Prometi que voltaria e ficaria tudo bem eu cuidaria de tudo. Iríamos viajar, seriam férias em algum lugar quente como ela tinha pedido e... Alguma praia e...


É escuro aqui amor, não gosto de escuro, não que tenha medo, mas não gosto, a mulher de olhos vazios me abraçou beijou-me e se foi, ouço pancadas, como terra sobre madeira, Tum Tum Tum! Ou seria meu coração? Não tenho certeza...
Botas, elas sempre devem ficar assim, em contato com o chão, sempre. Tantas rosas, que lindo!


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